(Tem
momentos em que Deus responde)
Neste
meu estágio de vida, com alguma frequência, noite adentro, tento
encontrar alguma inspiração aos segredos do Universo que são
tantos, insondáveis e nessa linha, quantas vezes me pergunto,
aquelas perguntas até desprezadas, porque respostas não vêm, “o
que faço por aqui?”, “qual o sentido disso tudo?”
Porque
são muitos os segredos mantidos em ...segredo além da compreensão.
Qualquer
que seja o gênio humano que pensa ter desvendado um desses segredos
num momento dado, se depara com um outro muro a ser escalado e outro
e outro formando uma barreira interminável de obstáculos
aprofundando os desafios e submetendo a inteligência.
Seria esta uma razão para os mistérios do Universo? E não sou muito de leitura evangélica, mas leio ("Aos Corintios", 2-14):
"Ora o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura, e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente".
Qual filósofo ou espiritualistas devotos de qualquer fé, desvendaram esses mistérios?
Por outra, não
sou eu quem poderia interpretar sonhos mas eles estão presentes na
vida. Com qual mecanismo psíquico eles se manifestam? Nesse meu
mundo de ignorância total, quantos deles me são tão agradáveis?
Pois convivo neles não sei em que plano com pessoas atenciosas,
gentis que parecem ouvir o que falo mas não respondem.
E
também sonhos um pouco mais reveladores, como este:
Viajo
na noite de breu. Não sei bem como cheguei até ali e onde estou.
Noite de breu. Acho que estou onde tenho minhas raízes. Nada
enxergo, mas pergunto para alguém que não vejo. Aqui é a rua ...?
A resposta não veio sonora, mas fui informado por algum modo que
era. Mas, a rua era muito acidentada não poderia ser. Nem nos meus
tempos de menino que guiava barquinhos de papel pelas guias quando
era ainda de terra.
Os
barrancos são altos, dava para perceber naquelas trevas. Paro na
frente de uma velha casa mal conservada:
-
Aqui mora minha tia M.?
Não
obtive resposta, mas entrei. Algumas crianças crescidinhas sentaram
perto de mim e alguns moços que também lá estavam me olhavam
com condescendência.
Um
deles de óculos:
-
Nós fizemos alguns negócios, você se lembra?
Não,
não me lembrava.
Minha
tia aparece vestida com um vestido longo, simples, levemente
rosado.
Se
aproxima, me beija o rosto e desaparece.
Acordei.
Há
muitos anos que minha tia falecera.
Essas
sensações além de me deixarem perplexo, me reconfortam.
Tento
pensar na casa velha. Não importa, nela moravam seres cordiais e
amáveis.
A simplicidade, para que mais?
Há
sonhos que me aterrorizam - não falarei deles pelo menos agora. Por
isso, ao me recolher, não poucas vezes peço às Divindades que me
façam, nas minhas “viagens” etéreas, estar perto de espíritos
com um grau superior ao meu.
Não
faz muito conversava num ambiente público com um amigo, um sujeito
bom, mas que tem por hábito usar muito o baixo calão por qualquer
razão. Eu já havia chamado sua atenção sobre isso. Às vezes me
parece que o baixo calão é um vício meio parecido com o cigarro:
vicia. Ambos fazem “cortes” nas inspirações creio, na sutil revelação que numa
intuição qualquer nos é dada.
Então,
dele não se poderia esperar, pensava, algum pensamento
revelador que
se aproveitasse, que saísse
daquele círculo mundano.
Mas, num momento de divagação sobre tudo o que nos rodeia ele,
apontando para o sol lá fora
afirma:
— Bom, alguém fez tudo isso.
E
na linha desse meu amigo que reafirmo os segredos imensos da vida de
cada um, eu fico perplexo em constatar que neste planeta, convivem
bem ou mal seres humanos com alto grau de entendimento ao lado de
outros que agem como feras. Vizinhos, um perverso e um caridoso.
E
é desses, mas não só, que se assistem barbaridades inenarráveis e
a vida segue aos que, mesmo magoados profundamente, têm que
sobreviver já no dia seguinte.
E
as grandes tragédias que vitimam centenas e até milhares de vidas
num só golpe?
E
essas tragédias, seria a aplicação da “lei da causa e efeito”
aceita pelos espiritualistas, agora mais popularizada como “lei do
retorno”? Essa “lei” tem efeito individual e coletivo?
Sim,
a vida é frágil, mas preciosa para cada um de nós mesmo que não
compreendida.
Bento
XVI, em 2006, alemão, ao rezar no antigo campo de concentração
nazista de Auschwitz na Polônia, aos horrores e mortes impostos a
milhares de judeus, àquelas vibrações tenebrosas do local,
perguntou:
-
Onde estava Deus?
Essa
é uma pergunta que cala na mente de todos nós ao assistirmos
tragédias que emocionam.
Mas,
foi Bento XVI, em suas últimas palavras antes do falecimento, quem
disse:
-
Deus, eu te amo.
Qual
fora a motivação do papa emérito a tal confissão? Naquele momento
da morte tivera a ampará-lo uma mão divina, uma visão iluminada?
Nunca
se saberá porque a experiência fora pessoal e intransmissível.
Nessas
noites de Lua cheia ou sem Lua, estrelas incontáveis, perto de
minhas plantas – uma árvore é o repouso de passarinhos – que
tomo a liberdade de perguntar a Deus:
-
Por que tantos segredos? Mistérios?
O que fazemos aqui nessa imensidão, num
lugar proporcionalmente tão pequeno considerando
o Universo ilimitado?
Até
que me detive na Epístola do Apóstolo Paulo aos Romanos. Versículo 12: 2, 3:
2.
E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela
renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a
boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.
3. Porque pela
graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não pense de
si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, conforme
a medida da fé que Deus repartiu a cada um.
Então,
Paulo recomenda
nos conformar com este mundo e, então,
“não pense de si mesmo além do que convém”.
Porque há nesses segredos indevassáveis,
vou completando,
“a medida da fé que Deus repartiu a cada um”.
Tenho
um amigo com um nível melhor
de
compreensão, iraniano
que vive há décadas no Brasil,
seguidor
da Fé
Bahá’i,
ocasionalmente eu o provoco sobre essas
indagações que
ele aceita bem, Deus,
o
Universo, os mistérios, essas angústias todas até que um dia
desses
ele
me remeteu esta frase de Bahá'u'lláh,
fundador
de sua religião (*):
"E
tu te consideras um ser insignificante, quando universo em ti se
encerra?"
Mas,
o que realmente pondero é a minha ignorância total “quando o
universo em mim se encerra”. E,
rigorosamente, com todos
esses desafios, afinal, me
pergunto: “sou insignificante”?
Bom,
há momentos em que a vida enleva aqueles momentos que propiciam
significâncias. E, penso muito nisso, ao final dos meus dias,
levarei minhas experiências que só podem ser relatadas, jamais
vividas por quem as tenha ouvido porque a emoção do momento não se
transfere.
E,
com o esquecimento ao qual estou reservado um dia, irei para algum
estágio sem esses conhecimentos superiores não revelados, esses
mistérios e segredos que não fazem parte das minhas possibilidades.
E
todos com maior ou menor
grau de reflexão não convivem
com essas incompreensões no
dia a dia? Difícil não pensar em si mesmo daquilo que não
convém, contrariando Paulo.
A Lua como um olho que tudo vê.
Noite
dessas novamente refletindo sobre esses segredos universais sem respostas, sobre
a vida frágil, a Lua lá no
alto com seu reflexo prateado, recebi uma pergunta mental
provinda não sei bem de
onde, mas que me causou
vigorosa impressão interior e
significado se me propuser a respondê-la
apenas por mim.
Esta:
-
Mas, não está bom assim?
●
● ●
NADA
SEI DE ESSENCIAL
Ah,
meus caros, aqueles tempos
De
(ir) responsabilidade e
Imortalidade...
Isso
era o que eu sentia
A
felicidade era em si mesma
Não
percebida mas vivida,
Mas,
o existir não é sempre assim
Os
chamados da vida que um dia clamam,
Os
dissabores até severos e os amores
Laços
de família
Tudo
vai vencendo, indo
Eis
me aqui, agora, certo de minha mortalidade
Nestes
tempos que… assustam.
Nada
tem respeito, nem as florestas
Os
animais que defendo,
Habito
em mim mesmo
Miro-me
no espelho fixo-me nos olhos,
O
que há atrás deles, onde habito?
Então,
sabendo da mortalidade
Tantos
do meu tempo se foram, já.
Meu irmão, generoso!
Sou instruído que
da vida o essencial ninguém sabe
Não
explico sequer o sabor duma manga
Do
espocar duma rosa,
Bato
nas janelas opacas da minha habitação
Não
há resposta
Apenas
um tênue sentido de religiosidade
Na
interioridade, nos sonhos...
Os
sonhos o que são?
Que
interações há nos sonhos com vivos e... mortos?
Bem,
não me é dado ir além do que sou
Um
simples mortal com os dias contados...
E
depois?
Nada
sei do essencial...
Referência
no texto em prosa
(*)
“A
Fé Bahá’í
é
uma religião monoteísta fundada por Bahá’u’lláh, na antiga
Pérsia, durante o século XIX, que enfatiza a unidade espiritual da
humanidade. Não possui dogmas, clero, nem sacerdócio, mas estima-se
que existam cinco a seis milhões de Baha’is espalhados por mais de
200 países. Os ensinamentos Bahá’ís atribuem grande importância
ao conceito de unidade das religiões: a história religiosa da
humanidade é vista como um processo de desenvolvimento gradual.”
Mais
informações, acessar: https://www.youtube.com/watch?v=nELmf0ZQSwM