20/02/2011
SETE PECADOS CAPITAIS / LUXÚRIA
Quando iniciei esta série, a partir do “pecado da Gula”, fiz referência a duas autoridades cristãs, ao teólogo e monge João Cassiano (370-435) e ao papa Gregório Magno (540-604), que viveram nos primórdios do cristianismo. (1)
São considerados sábios. Os elementos de que me valho para fundamentar as conclusões que agora faço sobre a luxúria, um dos sete pecados capitais – talvez na sua concepção original, um dos mais graves – porque naqueles idos já havia defensores do celibato entre os sacerdotes - foram inicialmente obtidos nos dicionários, o seu significado corrente:
LUXÚRIA:
Dic. Caudas Aulete: “Sensualidade, lascívia, dissolução dos costumes, corrupção”; Dic. Aurélio: os mesmo sinônimos, incluindo “libertinagem”; Dic. Houaiss “interesse incansável por prazeres carnais”.
Pode-se concluir, então, que a luxúria, numa definição mais atual, seriam os “excessos carnais”?
Se sim, tudo em excesso não transborda da racionalidade?
Assim a gula, o desejo descontrolado de se alimentar; a avareza, aquele sentido de reter bens e dinheiro como se pudessem ser transportados além túmulo e a preguiça que se transforma em indolência, apatia.
Pois aqueles religiosos citados não teriam sido moderados em condenar os prazeres sexuais, apenas os excessos, hoje tão comuns que nos assombra no dia-a-dia? A pedofilia, a homossexualidade (nesta crônica me refiro à relação homem-mulher que eu conheço), a pornografia nos seus estágios mais abusados...
Porque, fora da luxúria, há relatos bíblicos de admirável beleza sensual como se constata no capítulo “Cânticos dos cânticos” (capítulo 7):
1 Quão formosos são os teus pés nas sandálias, ó filha de príncipe! Os contornos das tuas coxas são como jóias, trabalhadas por mãos de artista.
2 O teu umbigo, como uma taça redonda, a que não falta bebida; o teu ventre como monte de trigo, cercado de lírios.
3 Os teus dois seios são como dois filhos gémeos de gazela.
4 O teu pescoço como a torre de marfim; os teus olhos como as piscinas de Hesbom, junto à porta de Bate-Rabim; o teu nariz como torre do Líbano, que olha para Damasco.
5 A tua cabeça sobre ti é como o monte Carmelo, e os cabelos da tua cabeça como a púrpura; o rei está preso dos teus encantos.
6 Quão formosa, e quão aprazível és, ó amor em delícias!
7 A tua estatura é semelhante à palmeira; e os teus seios, os teus seios são semelhantes aos cachos de uvas.
8 Dizia eu: Subirei à palmeira, pegarei em seus ramos; e então os teus seios serão como os cachos na vide, e o cheiro da tua respiração como o das maçãs.
9 E a tua boca como o bom vinho para o meu amado, que se bebe suavemente, e faz com que falem até os lábios dos que dormem.
10 Eu sou do meu amado, e ele é para mim.
11 Vem, ó meu amado, saiamos ao campo, passemos as noites nas aldeias.
12 Levantemo-nos de manhã para ir às vinhas, vejamos se florescem as vides, se aparecem as tenras uvas, se já brotam as romãzeiras; ali te darei o meu amor.
13 As mandrágoras exalam o seu perfume, e às nossas portas há todo o género de excelentes frutos, novos e velhos; eu os guardei para ti, ó meu amado!
Com as ressalvas da minha interpretação “poética”, essa declaração mútua de amor no texto transcrito constitui-se numa linda peça de sedução, da realidade entre homem-mulher quando apaixonados e livres.
Alguém pode me explicar o prazer intenso e desejado de um casal que se dá ao amor e ao sexo? Aquela explosão? Que fenômeno é esse? Ele instiga a relação, o encontro dos sexos opostos. Pode significar a felicidade
Mas, e a tragédia?
A luxúria desceria à libertinagem, aos excessos onde a mulher se submete e o homem a submete e se submete. Se esses excessos forem pecado, ambos não escapam.
Na imaginação de Dante Alighieri contida na obra “A Divina Comédia” os luxuriosos no inferno têm o seguinte castigo:
“Logo comecei a ouvir as lamúrias da infernal geena (*): aproximava-me já do lugar em que padecia ferozmente. Era um local privado de toda luz, que rugia como mar assolado por ventos furiosos. O furor da tormenta, nunca apoucado, flagelava eternamente as almas, agitava-as e as espicaçava, sem nunca parar. Quando à beira do abismo as precipitava, ais, choros e lamentos rompiam. A multidão de malditos blasfemava contra Deus. Ouvi dizer que sofriam de modo horrendo os que se dedicavam aos vícios carnais, submetendo a eles o discernimento.”
(...)
“Então, disse: “Mestre, que almas são aquelas que o vendaval castiga enfurecido?
Respondeu Virgílio: “A primeira entre as sombras das quais desejas ter notícias regeu nações. Decretou que a lascívia seria lícita e agradável, a fim de legitimar as torpes práticas nas quais se excedia. (...)” (2).
Sempre soube que o celibato imposto pela Igreja Católica aos seus bispos, prática que estaria institucionalizada em definitivo e obrigatório pelo Concílio de Trento (1545-1563), se dera por conta de melhor se dedicarem à própria Igreja e à espiritualidade.
Nessa linha de idéias eis as referências contidas em Gálatas (16 -19):
16. Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne.
17. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis.
18. Mas, se sois guiados pelo Espírito não estais debaixo da lei.
19. Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: prostituição, impureza, lascívia,
Para atingir este comunhão do Espírito há que contar com grande força sempre, mas muito mais nestes tempos de sexualidade exposta em qualquer meio de comunicação. Por isso valho-me mais uma vez de outra fonte que analisa a abstinência do sexo em relação à espiritualidade e os que a praticam ser estar preparados. De Max Heindel, místico-filósofo no seu “Conceito Rosacruz do Cosmos”:
“Por outro lado, se a pessoa se dedica a pensamentos espirituais a tendência para empregar a força sexual na propagação é mínima, de forma que qualquer parte dela que não se use nesse propósito pode ser transmutada em força espiritual. Por tal razão o iniciado, em certo grau de desenvolvimento, faz o voto de celibato. Não é uma resolução fácil de tomar, nem pode ser feita à ligeira por qualquer pessoa que deseja desenvolver-se espiritualmente. Muitas pessoas ainda imaturas para a vida superior sujeitam-se, ignorantemente, a uma vida ascética. Tais pessoas são tão perigosas à comunidade e a si mesmas quanto o são os maníacos sexuais imbecis.” (3)
O livro de Heindel foi escrito no começo do século passado, quando havia recato e até mesmo a demonização do sexo. Imaginem nestes tempos em que o pêndulo solto sem controle, com violência foi para o lado oposto dos costumes, gerando a sua total erotização.
Tudo está indicando que há um apelo à moderação. Mas, eu não tenho autoridade para nada recomendar (imaginem!) até porque não sei onde ela, a moderação, se situa. Que cada um medite se está no sexo o pecado e nesse caso, qual o seu limite até a luxúria. A luz está apagada.
Referências:
1)“Gula”, 1ª crônica dos “sete pecados capitais”, publicada em 26.12.2010 neste “Temas”;
(2)“Divina Comédia” - Edição em prosa da Coleção L&PM Pocket (2006);
(3)“Conceito Rosacruz do Cosmos” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz (3ª Edição – 1993)
(*) Geena (significado): “Local de suplício eterno, inferno” (Dic. Caudas Aulete)
Fotos:
1. Cena do filme “A um passo da eternidade” (1953) entre Burt Lancaster e Deborah Keer
2. Cena do filme “007 contra o satânico dr. No” (1962) – Ursula Andress
13/02/2011
FRAGMENTOS PATERNOS
- Tá aqui outro livro. Você vai gostar. E policial e refinado.
- Mas...
- Dê uma folga nos “bang-bangs”. Afinal, você não conseguiu ler “Os Sertões” do Euclides? Esse aí vai ser fichinha.
Fanático por “bang-bang” naquelas sessões da tarde na televisão, lúcido porque sóbrio, creio que tenha adquirido esse “amor” por esses filmes, após assistir, mais de uma vez, “Os brutos também amam” (“Shane”). Se bem me lembro, uma tarde-noite, enfrentamos o trem da extinta “Santos a Jundiaí” para assistir esse filme no também extinto cine Windsor, na avenida Ipiranga, São Paulo. Chegamos em cima da hora, o cinema estava lotado. Sentamos nos degraus. Deu para ver bem o filme.
A avenida Ipiranga não era tão atribulada e até perigosa como é hoje. Nem por liberdade poética, vejo encantos na esquina da avenida Ipiranga com São João.
Lá se punha o velho na sala, na mesinha que ele mesmo fez, na frente da televisão com os pés postos numa geringonça para esquentá-los naqueles dias mais frios: uma caixa de papelão com uma lâmpada bem instalada sobre ela. O calor da lâmpada era irradiado por uma abertura esquentando seus pés.
Escrevia bem. Gostava de música clásica.
Era exímio marceneiro para objetos pequenos: a escada de 1,5 metro de peroba que durou “uma eternidade” – quando ainda havia peroba - caixas bem feitas nos detalhes –até hoje tenho caixas de documentos e uns recipientes de bambu feitos por ele onde guardo brocas de furadeira.
As inumeráveis carriolinhas que fez para seus netos, meus filhos, os caleidoscópios e, principalmente, tabuleiros de jogo de damas, cujas “pedras”, também de peroba, foram torneadas, pelo que sei, no canivete. E o jogo com dados que os jogadores avançam ou recuam nas casas do tabuleiro segundo os desígnios dos números sorteados.
Tudo no capricho total na sua minioficina, um quartinho no fundo. Ao lado umas bananeiras muito “produtivas”.
Era muito vaidoso com o relógio Rolex que ostentava com orgulho; quando dizia as horas, mencionava até os segundos. Esse relógio está comigo. Há décadas esquecido, há pouco providenciei revisão total, mas ele não vale muito, quer pelo seu modelo simples quer pela sua antiguidade. Além desse relógio, uns poucos livros foram a herança ou o meu quinhão.
No ginasial fui péssimo aluno. Não poucas vezes, minha mãe foi chamada na diretoria do colégio para ouvir as ameaças que representava seu filho para a sociedade.
Embora ele sempre incentivasse que eu estudasse, a verdade é que praticamente tudo o que estudei foi opção minha e pago por mim, inclusive, pelos resquícios do mau aluno de sempre, penei demais para me formar em direito na PUCSP.
Mais tarde, muito menos pela renda e zero de patrimônio, mas talvez pelo "crédito" que teria obtido na minha atividade estudantil e na imprensa na cidade de São Caetano do Sul fui seu avalista em valor importante o que lhe permitiu comprar a sua casa. (Ou por outra, o banco entendesse que com ele o empréstimo seria pago rigorosamente, exigindo avalista apenas para atender aos seus procedimentos).
Já com meu fusca vermelho, num descampado, dei-lhe as primeiras aulas de direção. Muito difícil, mas era ambição maior dele ter um carro e dirigir. Depois de uma dezena de tentativas obteve a carta de habilitação. Até hoje desconfio que o delegado a concedeu por puro dó.
Já bem idoso, então, não foi capaz de dirigir com um mínimo de segurança o seu carrinho. E desistiu.
Muitas vezes, ao entardecer quando passava em sua casa, lá estava minha mãe preparando algum prato que ele gostava, geralmente de carne, e escondia o chocolate dos netos vorazes, a guloseima preferida do velho.
Já começava a apresentar os primeiros sintomas respiratórios pelas décadas em que fumou.
Todas essa lembranças conservo com muito carinho e quão forte fora minha mãe que, como dizia um tio, fora ela a luz do meu pai. E de todos nós.
CARTA DE DESPEDIDA
Em 06 de setembro de 1987
Ilmos. Srs. Diretores da
Cia. Antarctica Paulista
São Paulo
Prezados Senhores:
Faleceu no último dia 4, no Hospital Santa Helena, o Sr. Dario Martins, com pouco mais de 81 anos de idade, meu pai.
Na Antarctica, ele trabalhou por mais de três décadas, de onde se aposentou há cerca de 20 anos.
Em todos esses anos, mais de meio século, essa Cia. sempre esteve presente em sua vida. Amparando-o na condição de empregado quando sofreu a terrível doença do alcoolismo, dando-lhe apoio sempre. Depois, durante todos os anos da aposentadoria com um pequeno, mas significativo auxílio e agora, no fim da vida, no Hospital Santa Helena.
Saibam que meu pai amava muito essa empresa, chamando-a, sempre que passávamos na Presidente Wilson, de “mãe”. Para ele, fora um privilégio ter a Antarctica como motivadora da maior parte de sua vida.
Para quem, como eu, com um conceito próprio sobre o mistério da vida e da morte, que o visitei, só, nos últimos instantes na UTI do Hospital Santa Helena, na cena triste e final de uma existência atribulada, mas essencialmente honesta, sensível e mesmo feliz, não pude conter a emoção pois que houve ali, um momento doce de despedida, com um leve gesto de cabeça de quem, ainda lúcido, reconhecia seu estado crítico, prestes a seguir para um estágio reparador e transcendente.
Esse momento, que se relaciona intimamente com o Hospital Santa Helena, levarei comigo para sempre.
Eis porque escrevo esta a V. Sas. para registrar meu agradecimento, sincero, emocionado, a uma entidade de comprovada grandeza a quem meu pai, ao longo de quase toda sua vida, só soube exaltar.
Foto 1: Esses lírios por muitos anos enfeitaram nosso jardim, quando morávamos em Santo André. É um símbolo daqueles tempos inesquecíveis. Por isso ele ilustra esta crônica porque infelizmente, raro, nunca encontrei bulbos e pior, não os trouxe quando mudamos.
Foto 2: São Caetano do Sul aérea, de minha juventude, onde tanta coisa vivi, fiz acontecer e aconteceu.
06/02/2011
31/01/2011
“POEMAS”, para não dizer que não falei... (II)
Já expliquei que não são inéditos já os tendo divulgados em crônicas minhas.
(V. mensagens no final desta página)
ORQUÍDEAS E BEIJA-FLORES
Eis-me aqui amargurado e pensante
Mal respirando nesse clima insano,
Tudo que exala desse meio paulista urbano
Envolto na fuligem dessas chaminés rasantes.
Que mundo é este de dura resistência !
Que mundo é este de intensa incerteza
Que mesmo à reação da pródiga natureza,
Ampliam-se os desertos por abusada inconsequência?
Que mundo é este de ganância e escuridão,
Que princípios postos pouco ou nada valem?
Se de tudo que inspira sucumbe, porém,
Nessa sanha caótica de destruição?
Reajo impotente qual um conformado perdedor
Sonhando acordado, no tráfego, quietamente,
Vendo desabrochar orquídeas no fundo da mente,
Visitadas por beija-flores em doce torpor.
E assim, no interior de minh’alma triste
Revela-se que tais doces criaturas, parece,
De Deus, são o preferido passatempo, uma prece,
E somente por essa dúvida a esperança persiste.
Esses instantes de valor e Paz perdem-se na poluição,
Sobressaltado não pela água límpida irradiando o sol,
Mas pela barulhenta abertura do farol,
Cujo verde não é o das matas que clamam proteção.
P A Z
Paz, o que significa paz, meu irmão?
Digo-lhe que é privilegiada palavra neste idioma
Por quê?
Explico:
P de perdão
A de amor... meu bom
e
Z – z do quê? quero saber...
De zênite, acredite.
Qual o significado de zênite, ora?
Digo-lhe meu caro:
Olhar de onde você está para o alto
Até onde a vista alcança o céu,
Mas, sobretudo, culminância
Da Alma
PAZ, significa, então,
Perdão
Amor
Culminância ... da alma
Acredite, meu irmão.
PASSADO PRESENTE
Se só o presente existe
O que faço com o ontem?
Dele tudo bate no peito
Na alma que se questiona
O que faço se o passado insiste?
Quando o revive saudosa a alma
No silêncio daqueles instantes
Eclode o sentimento da graça
De amor, tristeza e calma
Se o agora é o que conta
Porque a vida plena está presente
É no passado que ela ensina
E no passado que ela inspira.
ANTIGO SIM, VELHO JAMAIS
Eis-me aqui já antigo
Velho? Jamais!
Repensando atitudes insensatas
Aquelas que revivem dores e ais...
Eis-me, então, sisudo, tímido e capaz
Disso tudo, afinal, o que ganhei?
Muito daquilo que se diz desalentos
E pouco riso nas subidas que conquistei...
Eis-me agora já antigo
Velho jamais!
Encantado com o trabalho, azáleas e simples pardais
Ora, porque há que se extrair da vida meles reais,
Insisto agora com muito esforço
Superar o baixo astral dos tempos idos
Saio falando do ótimo e do maravilhoso
Meu Deus! Que tempos aqueles perdidos...
Há ranços que ficam ainda, é certo
Dos tempos velhos e dos velhos carcomidos
Mas, quem disse de velho e velhice?
Ora, eis-me aqui rindo da graça...
Pois sou somente antigo...
Imagens / Fotos: Google
MENSAGENS
1. Message to my friends in Russia: it is an honor to have you in this humble blog.
2. SOBRE AS ARARAS-CANINDÉ: NA CRÔNICA ANTERIOR (MENSAGENS & IMAGENS) CONSEGUIMOS INSERIR O VIDEO DO NAMORO OU DIÁLOGO DELAS SOBRE UM TRONCO, NA BELA CIDADE DE CAMPO GRANDE - MS. BASTA CLICAR NO INÍCIO DO VIDEO
23/01/2011
MENSAGENS & IMAGENS
Essa foto foi publicada pelo jornal “O Estado de São Paulo” de 16 de janeiro último, uma cena emocionante entre tantas outras havidas na tragédia que se deu na Região Serrana do Rio de Janeiro. A legenda curta simplesmente diz que “nem a morte afasta o amigo”, acentuando que tentaram tirar o cachorro vira-lata do Cemitério de Teresópolis que há dois dias estava ao da sepultura 305, “onde foi enterrada sua dona Cristina Santana”.
Há muitos outros casos semelhantes e mais radicais do que esse apego do cão ao seu dono. Sempre me chama a atenção o cão vira-lata que, fielmente, segue seu dono ou protetor, seja ele um indigente, catador de papel, magro tal qual o seu senhor, dividindo as migalhas, mas, jamais, faltando com a lealdade. Ele é leal, mesmo sob pancadas. Nessas desfeitas, seu olhar é tristonho, ressente-se da reciprocidade não recebida nessa relação. Mas, continua caminhando junto ao seu dono
Eu já escrevi sobre isto. Tive duas vira-latas no meu quintal, mãe e filha. A primeira foi adotada porque perambulava pelas ruas. É dela a expressão de humildade. A segunda nasceu nele e mais do que eu ela se apegou a mim, a Preta. Foram 17 anos de convivência e aquele amor incondicional, como já relatei. Ela precisou ir atacada por insidiosa doença. Nunca imaginei que naquele momento que não tive coragem de assistir o nó na garganta, escondido no meu escritório, se convertesse em soluços amargos. Aquele sentido de perda que ainda me afeta porque parece que ouço às vezes seus fungos, seus reclamos de minha presença, pelos cantos da janela do meu escritório de casa ao anoitecer. Ou seu espectro no quintal. Passados já alguns meses de sua morte, minha penitência por tudo o que não fiz, que não retribui é essa: sou eu quem, no cemitério virtual, me deito ao seu lado com emoção. Há aquela frase referencial de Antoine de Saint-Exupéry na sua obra-prima “O Pequeno Principe”, que pela voz da raposa transmite séria advertência: “você é responsável pelo animal que domestica”. Tenho minhas dúvidas se não há alguns animais que têm certa responsabilidade sobre nós pelo amor que irradiam.
O diálogo (ou o namoro?) de araras-canindé
Em Campo Grande – MS, meu filho Eduardo Pimentel Martins, filmou num entardecer o diálogo de duas araras-canindé, deixando registrada a cena no endereço abaixo. Basta clicar sem medo.
Dá um sentido de liberdade, de pureza e esperança. Há quadros em que singeleza é mais eloquente que aqueles requintados.
Texto adaptado da Wikipédia: Essas aves estão sempre em grupo e são barulhentas mas pousam silenciosamente. A arara-canindé está ameaçada de extinção por conta do contrabando e pelo comércio ilegal de aves. São aves muito procuradas como “de-estimação” pela docilidade, beleza; possuem certa capacidade de fala. Uma vez que formam casal, não mais se separam e botam cerca de 3 ovos e chocam entre 27 e 29 dias. Em cativeiro, vivem aproximadamente 60 anos.
Estatísticas
Este blog correu o risco de ser extinto porque pouco acessado após implantado, salvo pelos meus amigos. Incentivado por alguns deles, fiquei mais um pouco inserindo na média uma crônica por semana. Já são mais de cem inserções. A estatística desde maio de 2010, disponibilizada pelo próprio blog, revela o seguinte até janeiro: 5732 vizualizações de páginas tendo a fábula “A vaca e o leão” 1.558 acessos. Em seguida, “A vida secreta das plantas” (386). Das visualizações do exterior, destacam-se Portugal (286) e Estados Unidos (180). Há até acessos do Iraque, mais creio que sejam casuais, mesmo que honrosos. No que se refere ao blog de “Artigos”, no qual revelo minha “face nervosa e inconformada” por todos os abusos que consomem o país, os acessos são em menor quantidade, até porque os instrumentos de busca (Google) remetem tais artigos para o portal www.votebrasil.com. Na verdade, esse blog de “Artigos” é um backup do “Vote Brasil”. Também desde maio de 2010, das 1750 visualizações, o “Bullying” é o mais acessado, 448 vezes. Quanto aos acessos do exterior, os Estados Unidos vêm em primeiro lugar (156) e Portugal em seguida (56) Por causa dessas vizualizações continuarei passando recados, bons e ruins. Minhas homenagens
16/01/2011
SETE PECADOS CAPITAIS / PREGUIÇA
Para mim, a preguiça no dia-a-dia é um pecadilho.
Sei que tenho que fazer hoje, mas adio para quando der vontade ou quando não há mais jeito.
Os dicionários a conceituam como aversão ao trabalho, ócio, lentidão. (1)
Esses sábados à tarde em que a modorra bate forte:
- É preciso cortar a grama!
Penso:
- Ah, não. Vai chover quem sabe amanhã.
No domingo a preguiça bate mais forte, naquelas tardes intermináveis, véspera de segunda-feira implacável.
- Na semana que vem. Preciso arrumar os fios...Agora vou tirar uma soneca e viajar por mundos insondáveis...
Há tempos – naqueles meus anos de multinacionais com dedicação exclusiva até o dia em que descobri que não era “imortal” e saí da última com marca indelével da sola no assento - assisti palestra interessante. O palestrante dava vivas às segundas-feiras porque a vida “retornava ao normal”.
Ele sabia, tanto quanto eu, que o fim de semana nos libertava da “escravidão”, mas por isso a segunda-feira nos alertava que ela haveria que repor os grilhões. Já que assim era, haveria que comemorar.
Há muitos anos inspirado por uma cena inusitada de um indigente deitado exatamente na porta de agência da previdência social, cena emblemática – se tirasse, seria foto premiada - inspirei-me numa poesia que a certo ponto dizia:
Na estreita calçada da suja rua
Deitado e dormindo ao frio relento,
Eis um triste indigente, pele nua
De vida inexplicável, tal tormento.
E terminava assim:
“Sem amor nenhum, sem ideal
Lá esta o indigente sem viver,
Que teria cometido assim fatal,
Para tão grande castigo merecer?”
Em Provérbios 6.6-11 é bem clara a condenação à preguiça atribuindo a ela o castigo do despojamento. Lê-se:
“Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, olha para os seus caminhos, e sê sábio”
“A qual, não tendo superior, nem oficial, nem dominador” (refere-se a patrão, de um modo geral);
“Prepara no verão o seu pão, na sega ajunta o seu mantimento”
“Óh! preguiçoso, até quando ficarás deitado? Quando te levantarás do teu sono”
“Um pouco de sono, um pouco tosquenejando (cochilando), um pouco encruzando as mãos, para estar deitado”
“Assim te sobrevirá a tua pobreza como um ladrão, e a tua necessidade como um homem armado.”
Esse texto de Provérbios dá a exata dimensão da célebre fábula de Esopo, a “A cigarra e a formiga”. Só que o grego Esopo vivera no século IV antes de Cristo. O final "dance agora" está muito próximo do versículo 11 acima ao advertir que a pobreza do preguiçoso significará o golpe de um ladrão e as necessidades serão satisfeitas pela mendicância com muitas negativas e ofensas, como se deu com a cigarra.
Eis a fábula com tradução de Bocage (Portugal, 1765-1805):
Tendo a cigarra, em cantigas,
Folgado todo o verão,
Achou-se em penúria extrema,
Na tormentosa estação.
Não lhe restando migalha
Que trincasse, a tagarela
Foi valer-se da formiga,
Que morava perto dela.
– Amiga – diz a cigarra
– Prometo, à fé de animal,
Pagar-vos, antes de Agosto,
Os juros e o principal.
A formiga nunca empresta,
Nunca dá; por isso, junta.
– No verão, em que lidavas?
– À pedinte, ela pergunta.
Responde a outra: – Eu cantava
Noite e dia, a toda a hora.
– Oh! Bravo! – torna a formiga
– Cantavas? Pois dança agora! (2)
Fui obrigado, nos meus tempos de ginasial, a decorar e recitar essa fábula em francês – verdadeira tortura. Até hoje guardo na memória quase seu texto integral.(3)
Bem, é o que tinha que dizer sobre a preguiça que pode ser um pecadilho ou o pecado capital.
Quantas vezes não me comprometo nesse pecadilho, porém.
Até segunda-feira, após espreguiçar-me (epa), ai, ai, ai!
Referências:
(1) O animalzinho “Bicho-Preguiça” ilustra a abertura desta crônica porque mais do que qualquer outro, sua lentidão é significativa para bem situar o tema. Mas, essa lentidão é de sua natureza, tendo como ponto negativo o de facilitar a ação de predadores quando não bem escondido entre as folhagens.(Foto: free2use.it.com).
(2) O texto da fábula de Esopo e a figura foram extraídos da Wikipedia. O texto tem outras fontes.
(3) A mesma fábula “A cigarra e a formiga” recontada por Jean de La Fontaine (França, 1621/1695) em francês:
La Cigale, ayant chanté
Tout l'été
Se trouva fort dépourvue
Quand la bise fut venue:
Pas un seul petit morceau
De mouche ou de vermisseau.
Elle alla crier famine
Chez la Fourmi sa voisine,
La priant de lui prêter
Quelque grain pour subsister
Jusqu'à la saison nouvelle.
Je vous paierai, lui dit-elle,
Avant l'août, foi d'animal,
Intérêt et principal.
La Fourmi n'est pas prêteuse:
C'est là son moindre défaut.
Que faisiez-vous au temps chaud?
Dit-elle à cette emprunteuse.
Nuit et jour à tout venant
Je chantais, ne vous déplaise.
Vous chantiez? j'en suis fort aise:
Eh bien! dansez maintenant!
09/01/2011
“POEMAS”, para não dizer que não falei... (I)
Muitas já ilustraram crônicas neste “Temas”, pelo que são conhecidas, muito.
Estas primeiras revelam essa miscelânea de sentimentos.
Grandes inspirações? Haverão que buscar em outras plagas!
ONDAS DE VIDA
Num longo dia da misteriosa criação,
Criou Deus as águas, as árvores, a flor
Sabia o Criador com viva emoção
Que tal grande acervo era, por tudo, amor.
Noutro dia da gloriosa criação
Criou Deus seres viventes, as aves, os animais,
O paraíso já verde, multicolorido, em ação
Resplandecia azul nos céus com claros sinais.
Criou Deus, por fim, à Sua imagem e semelhança
Nele inserida a chama, o sopro da luz divina,
Este Homem interior inscrito na esperança
Que no caminho do amor e ventura destina.
Assim porque achou Deus que era bom
Ambientado o homem no encontro da eternidade,
Havendo uma só harmonia, num mesmo som
Ondas de vida da mesma fonte, diversa a idade.
Multiplicam-se nos tempos essa chama,
Diferindo da origem, pelo chão amealha,
Acumulando pecados que o egoísmo inflama
Fez do paraíso um campo de batalha.
Gozando os prazeres e vícios do exterior,
Vaga sem rumo, colhendo dores e pesada cruz,
Atenua no íntimo sua origem rósea
Esquece que do fútil, do vício, o nada produz.
Desatinada existência de muitas intrigas,
Não bastassem os ódios que expõe permanente
Investe feroz sem respeitar vidas amigas
Às outras criações, milagres da Divina Mente.
Ignora que a insensatez e a vantagem temporal,
Atrasam o despertar do lume interior
Em verdade, o paraíso que existe universal
E a bênção sutil de elevado valor.
Pois, os milenares dias da milagrosa criação
Nos tempos tem lugar certo e final perfeito.
São (somos) ondas de vida em franca evolução
Que obrigam nosso justo andar e vivo respeito.
ÉS JOVEM SESSENTÃO
És jovem, meu sessentão amigo !
Andas por aí tal qual profissional
Caminhando de cá até lá, encolhendo a barriga,
cabelo tingido (!?)
Se jovem és, amigo, és também antigo (!?)
Vê-se em teu rosto sulcado, marcado, maduro
Linhas passadas da alegre juventude, sem regras,
O olhar feliz, para frente, sorridente, ardente
Sem pensar no tempo, na vida, no futuro (?)
Da não eterna primavera solar, juvenil
Haverá um tão próximo dia que a vida cobrará,
Vislumbrando teus olhos (perplexos) o outono
E, amargura, mais adiante, o inverno senil.
Reconheço, sim, valor enfrentá-lo animado,
Uma ilusão de que a juventude se estende
E os choques reais, amenizam-se com lembranças doces,
Persiste o amor à vida – o existir digno, alinhado.
Diz-se que a velhice reside na mente
Ao refletires, porém, sobre a vida – ó jovem,
Não esqueças que algum dia ela se esvai
Mas, tal uma sentença ... pode ser adiada, somente.
POETA BEBERRÃO
Ah ! poeta falsificado
triste e doido beberrão;
rei da histeria tola
o que pensas da poesia ?
Julgas que diante dos copos ,
da garrafa vazia,
encontraras a musa do amor ?
enganado estás meu caro medíocre !
a musa imaculada que buscas,
aquela que o verdadeiro poeta canta,
não está no brilho d’uma garrafa,
Ilustre beberrão !
Porque a musa doce e bela
a pura e límpida impressão,
É a alma limpa que chama
É o espírito são que revela...
Ilustre beberrão.
PRESENTE, PASSADO E FUTURO
A tarde é cinzenta e fria. É outono
Bate forte o vento na janela entreaberta
Estas tardes melancólicas de sábado
me fazem viajar no tempo
E anoto quão ele é inexorável
de estação em estação.
Ligo o passado jovem com o presente
Sou eu mesmo, pena que sem mais ardor
Projetos mirabolantes, belezas utópicas,
Sem mais as ilusões de mudar
com discursos o mundo,
Nem parece verdade todo esse trajeto.
Que posso dizer disso tudo, afinal?
Que tenho saudade do feito e do não feito?
Contabilizando os trens que passaram
sem que embarcasse?
Pelas oportunidades e o tempo desperdiçados?
Não sei bem o que sinto, na verdade.
Só sei que tal ligação passado-presente
Está aqui comigo, n’alma,
E me desperta a cada dia
Quem fui, quem sou e quem serei?
Quem sabe um idealista que queria
mudar com discursos o mundo,
Lamentando os trens perdidos
Que me levariam...para onde?
Amargo com muito dó...
Olho do alto da maturidade
Serena e...mais além...
Lá serei uma lembrança remota
cuja presença se perderá no pó...
Inexorável!
PAIXÕES
Um rosto, um olhar
A convivência, a presença
A insistência
Eis que da empatia
Floresce a simpatia
O amor e, mais além
A paixão
Explosão,
Brilham luzes internas
O coração irradia
A doçura do desejo,
Que clama
Reclama
A presença
A convivência
Um abraço, um beijo
O amor abrasado
Intenso,
Que se esvai
No silencio
Na ausência
Do olhar, do rosto, da presença,
As luzes que se apagam
Uma esperança
Que se perde,
Uma ilusão ardente
Uma lembrança.
Fotos/Imagens
1. Criação, obra de Michelângelo - Capela Cistina - Roma
2. Idosos: http://gericareatendimentos.blogspot.com/
3. "Cultura cervejeira": Autor João Werner (http://www.joaowerner.com.br/)
4. Tempo: http://www.blogdosempreendedores.com.br/
5. Paixão: Idílio, de Willian Zadig - Largo de São Francisco - SP
03/01/2011
SETE PECADOS CAPITAIS / AVAREZA
26/12/2010
SETE PECADOS CAPITAIS / GULA
20/12/2010
REGRESSÃO (III): CARROCINHAS
MEMÓRIA: UM BRINQUEDO INESPERADO. UMA SURPRESA
Vou retornar no tempo, há muito tempo.
Eu ainda morava em São Paulo, na Lapa, bairro onde nasci. Na rua Roma.
Tempos de “pureza”, mais do que nunca, palavrão era pecado.
Criança, 6 ou 7 anos, saía sem medo pelas ruas dava a volta no quarteirão e parava nos escritórios da fábrica de máquinas de costura Leonam (Manoel ao contrário porque o dono seria Manoel Ambrósio Filho). As ruas eram praticamente desertas.
Tenho leve lembrança de queixas da derrota do Brasil na Copa de 1950 no Maracanã.
Acho que, pela família palmeirense, não sei se ainda na |Lapa ou já em São Caetano tenho distante a voz do incomparável narrador Pedro Luiz emocionado com a conquista pelo Palmeiras do campeonato mundial interclubes em 1951, comemorado apoteoticamente por 100 mil torcedores no mesmo Maracanã. Acho que meu irmão empolgado dissera: “o Palmeiras é campeão”. Não sei se foi nesse campeonato…
A proximidade do Natal e do Ano Novo tinha um sabor especial, muito mais do que agora, certamente. Naqueles idos na Lapa, a família toda se reunia na casa de um tio e lá havia a ceia do dia 31 de dezembro.
Minha mãe, excelente cozinheira, uns dois dias antes do Natal se unia às minhas tias e começavam a prepará-la.
Todos se uniam, meus primos e primas, meus pais, meus tios que contavam "causos", piadas, havia um clima de descontração pelo Natal, desprovido do apelo comercial de hoje e na véspera do Ano Novo, na virada, o rádio transmitia a corrida de São Silvestre. Em 1950 venceu um belga.
Penso que meus pais enfrentavam problemas, tanto que logo depois mudamos para as imediações de São Caetano, um trauma para minha mãe porque tudo estava por fazer, uma cidade que obtivera a autonomia havia dois anos.
Há desses momentos que não se esquece. E foi na Lapa. Guardei para sempre pelo gesto que surpreendeu o menino.
Fora, também, resultado de um impulso decidido, há quantos anos!
Quanto a mim, lembro-me bem, não sabia se meu presente de Natal seria bom. Se haveria presente.
Dias antes do Natal, meu primo fora ao "jardim de infância" para a festa da escola onde estava matriculado. Era perto de onde morávamos.
Fui com ele mas não tive coragem de entrar. Eu não "era" da escola.
Fiquei no portão e pude ver à distância todas as brincadeiras, as balas distribuídas e, para surpresa geral, no fim da festa, a escola distribuiu brinquedos a todos os alunos.
As crianças que estavam fora, vendo os presentes nas mãos dos meninos que saiam contentes, permaneciam boquiabertas pelos brinquedos que não ganhariam do "jardim da infância". E quiçá, do papai noel que naqueles tempos era uma figura comercial, mas nem tanto.
Eu não poderia ficar sem brinquedo também.
Criei coragem, entrei na escola quase vazia e vi-me numa sala ampla, toda enfeitada.
Uma mulher lá estava. Não me lembro do seu rosto? Era jovem? era velha? Bonita ou feia? Talvez mais jovem que velha. Jeito de professora, com certeza:
- Também quero um brinquedo, afirmei meio trêmulo com os olhos voltados para o chão.
A mulher, surpresa com o pedido, olhou-me por alguns segundos e sem relutar pegou sobre um armário uma carrocinha de madeira, puxada por um cavalinho. Caprichada, perfeita. Estava desembrulhada, sem a caixa. Talvez por isso tenha sobrado.
Entregou-me:
- Para você.
Foi demais. Inesquecível. Minha mãe ficou surpresa e contente com o presente inesperado que recebera. Jamais esquecerei essa carrocinha, pela forma como ela me foi dada.
Naqueles tempos e hoje com jogos eletrônicos e tudo, ainda acho que há uma idade em que a criança se encanta com um brinquedo. E quando ele é dado como foi dado sem qualquer relutância, seu valor se multiplica e permanece para sempre na memória.
Há um sentido de leveza e intensidade na gratidão a lembrar e a relatar.
Ainda que tenha sido há muito tempo, enleva tanto quem concede sem relutar, como quem recebe tanto que até hoje tenho guardada (na memória) essa carrocinha e seu cavalinho...