06/04/2022

CRÔNICAS E OUTRAS LUCUBRAÇÕES.

1. O ENCONTRO DAS CRÔNICAS: os efeitos do tempo

Em 1994 escrevi uma crônica que se referia à velhice e as lembranças que ficam da infância. O título: "Desfecho de uma vida simples".

Baseando-me em fatos daqui e dali, de saber e ouvir dizer, escrevi a crônica relatando a decepção do idoso ao descobrir que de tudo de precioso de sua infância nada mais restava.

No tocante a Bíblia que ele abriu em oração naquele momento de amargura, fora uma experiência real da qual eu participei; uma professora de filosofia, religiosa, que não revelara nunca qual ramo espiritual que professava, em algumas aulas, aos interessados, fazia um tipo de jogo: ela abria sua Bíblia ao acaso lia o versículo "sorteado" na página assim aberta e, então, pedia aos alunos que lessem o texto escolhido. Brilhavam os olhos da professora à medida que os aluno participando do "jogo" revelavam diferentes interpretações do texto bíblico. E naquele exercício havia uma sensação de leveza.

Pois bem.

Para encerrar a crônica citada eu fiz exatamente isso. Abri a Bíblia ao acaso e o versículo "sorteado" foi muito apropriado para o desfecho da crônica.

Se a crônica interessar, acesse, clicando: Desfecho de uma vida simples

Essa crônica foi publicada recentemente num revista digital que congrega ex-alunos do Ginásio "Amaral Wagner" de Utinga (Santo André) denominado "O Ginasiano". (*)

O jornalista Ademir Medici em sua coluna no "Diário do Grande ABC" de 2 de abril último fez o seguinte comentário mas será preciso lembrar que essa análise partiu de um amigo o que pode conter gentilezas da parte dele:

"Milton Martins, em "Desfecho de uma vida simples", fala do homem que, ao completar 80 anos, resolve voltar à sua terra natal. Todo estilo de Anibal Machado, jornalista e escritor que faz parte da primeira linha dos autores brasileiros."

Mas, quem é esse escritor Anibal Machado que sequer ouvira falar?

Fui pesquisar sobre Anibal Machado. Quem era ele?

Para minha surpresa, é ele o autor do livro "Viagem aos seios de Duília: 

Eu não li o livro até agora. Conheci essa história por um filme brasileiro com o mesmo nome que gostei muito.

O enredo é simples: quando pré-adolescente ao jovem apaixonado, a menina Duília lhe mostra os seios.

Ele fica com aquela imagem encantadora. 

Envelhece, se aposenta, solteirão  sai em busca de Duília enfrentando uma viagem tormentosa, O personagem, então, encontra a mulher, mas o tempo fora implacável com ela: viúva, uma senhora envelhecida, avó, cujos encantos se perderam naturalmente depois de tantos anos.

Sobre essa obra, mas pelo filme que gostei, escrevi uma crônica que pode ser encontrada no meio de outras, acessando:

Em Croniquestas (I)

Para mim tudo isso foi um encanto. Essa descoberta.

Bom que se diga que eu também enveredei pelo passado. 

Em 2018 andei a pé por São Caetano e relatei essa experiência também numa crônica.

Se for de interesse, acessar: Memórias de São Caetano 50 anos depois

Pensei em voltar à cidade e rever lembranças que faltaram,  marcantes de minha juventude, mas resolvi não fazê-lo. Afinal o tempo passou e os ânimos, hoje, são outros.

E, ademais, minhas "árvores centenárias" há muito se foram e eu não preciso voltar lá para saber. Quem ler a crônica "Desfecho de uma vida simples" vai entender o que estou dizendo.

(*) A publicação digital "O Ginasiano" é idealização de  Dilson Nunes, ex-aluno do Amaral Wagner que também a edita.


2. A PROXIMIDADE DO BEM E DO MAL

Criei coragem e divulgo esta menos que uma reflexão, uma constatação, e nas madrugadas da vida, que desafiam a minha compreensão. Não adianta, me consolo e reafirmo que o essencial da vida, nós todos não sabemos.

Olhem, estas são explanações minhas e somente minhas. Em todos esses livros que tenho lido geralmente aqueles com temas ocultistas, é revelada uma distância muito tênue entre o bem e o mal.

Isso se revela, por exemplo, no livro "Zanoni" de Edward Bulwer-Lyton (*) no qual o Autor expõe numa passagem que, na tentativa de desvendar mistérios universais pela “magia” ao inepto para tanto, pode a experiência se transformar num distúrbio mental grave. 

Sim dá para sentir o bem e o mal em sutis influências que se transpõem: um pensamento construtivo, qualquer que seja, pode ser turvado instantaneamente por um outro de influência destrutiva ou de inveja, ou de ódio. Jesus Cristo foi assediado pelo demônio. Até Pedro foi rejeitado quando advertiu Jesus de que ele não seria sacrificado como anunciara aos seus discípulos (Mateus 16, 22-23).

Tenho pensado muito nisso. Tenho sentido essas manifestações contraditórias do bem e do mal com constância. A essa proximidade entre o bem e o mal vem-me à mente a imagem dum ônibus, sentados lado a lado, roçando ombros um dos passageiros com alto valor moral caridoso e o outro exalando a perversidade de uma alma doentia dando guarida à destruição à sua volta.

Como se explica tanta diferença nesta planeta? É o planeta notoriamente das contradições. 

Que mistério é esse?  

(*) Acessar resenha do livro: Zanoni















09/01/2022

ANO 78 - "RELATÓRIO"




Tenho para mim que ao atingir essa marca nada impede um breve relatório do que enfrentei nesses anos todos.

Juventude, dificuldades

Muitas, até me situar nos princípios da “existência”. 

De família classe média baixa não havia muito que aspirar. Mas, nada que eu me lembre me faltou. 

// Brinquedo de Natal. Acessar: Carrocinha de Natal

Numa reação a essa situação, vivi anos brilhantes na década de 60 em São Caetano do Sul naqueles tempos de “imortalidade” em que tudo brilhava, as músicas e os costumes mais respeitosos.

Sim, houve a “intervenção” militar, uma época difícil com censura e prisões sórdidas aos opositores, muitos apenas contestadores teóricos, duramente “castigados”.

O ano de 1965 para mim tornou-se inesquecível pela minha atuação na vida estudantil da cidade e na pequena imprensa de São Caetano do Sul, uma cidade modelo.

// Vida estudantil e outros em São Caetano, acessar: Vida e experiência estudantil em SANCA

Família

Casado há quase 53 anos com Ana Rosa, com cinco filhos e oito netos.


Milton, Gisele, Eduardo, Otávio e Silvio

Vida profissional

Trabalhei a maior parte de minha vida profissional em multinacionais automobilísticas.

Aprendi muito, mas a empresa que me marcou foi a Chrysler. Os desafios e os desgostos hoje encaro tudo como valiosa trajetória.

Em 1975, pela empresa fiz viagens por países da América Latina para compreender o que eram as negociações coletivas sindicais nesses países (Argentina, Colômbia, Venezuela – muito rica, então – e México).

// Experiência diferenciada no México, acessar: México a a brisa na pirâmide

Uma premonição porque três anos depois, em 1978, eclodiu a greve no ABC que significou uma abertura política.

Nessa greve, minha atuação quixotesca foi um desgaste total, relatei isso, mas hoje, décadas depois, considero uma experiência muito valiosa.

Algo para contar, “histórico”. 

No afã de convencer operários de minha fábrica de Santo André a voltarem ao trabalho, dando “um voto de confiança” usei palavras de baixo calão, uma delas hoje muito em voga nas redes sociais.

Fui interrompido na minha insensatez por um grevista que se apresentou como auxiliar de enfermagem:

- Como pode o senhor falar tanto palavrão…

// Greve de 1978, acessar: Greve de 1978 em SBCampo

Desde aquele 1978 tento me conter nesse vocabulário negativo do baixo calão que vibra mal na vida.

No final da década de 80 também profissionalmente, estive nos Estados Unidos com meu inglês ruim e relatei as peripécias.

// Eu e meu inglês ruim nos Estados Unidos, acessar: Inglês ruim nos Estados Unidos

Demissões

General Motors – São Caetano

Aprendi muito. Foi lá que me interessei pelo sindicalismo. Aliás, os dirigentes sindicais eram atendidos na portaria da empresa. Anos depois...

Hoje, de sindicalismo, não quero nem ouvir falar.

O supervisor, uma personalidade intempestiva, não percebia que humilhava seus funcionários. Eu às vezes era “intimado” a abastecer o carro que lhe fora designado, para ficar no menos. Outro colega num nível hierárquico pouco acima tinha por missão levar uma admirada loura dos escritórios para arrumar os cabelos fora, no horário de expediente.

Pedi demissão e lhe falei poucas e boas. Um erro.

Chrysler – São Bernardo / Santo André

Também me demiti porque o diretor de RH sempre que pedia alguma coisa dizia que a fábrica de Santo André tinha os dias contados porque adquirida pela VW. No terreno da fábrica de Santo André hoje há uma loja do Carrefour.



Também a fábrica de São Bernardo desapareceu.

Fui homenageado com festa de despedida, cartão de prata e, pelo trabalho que desenvolvi no clube da empresa, nome de troféu.



Bons tempos que só pertencem a mim essas leves lembranças num tempo que muito me marcou.

Poderosa multinacional de Piracicaba

Nos primeiros anos considerei a melhor empresa para a qual trabalhara.

Depois, houve a consolidação das fábricas. A unidade de São Paulo foi transferida para Piracicaba.

Não que a empresa tivesse piorado, mas não me dei bem com a mudança e não parava de repetir:

- Melhor para mim seria a demissão com o recebimento do pacote (um plano de incentivo aos demitidos com valores superiores ao que estabelecia a lei).

Eu não era muito conhecido da turma transferida e fizera restrição à transferência de pessoal operacional de lá, porque aqui sobravam.

Repeti tanto esse “desejo”, a ponto de se realizar: fui preterido e demitido. E ponto final. A primeira vez para valer...

"Não deseje insistentemente aquilo que você não deseja ou não tem convicção do que quer..."

Sim, foi doloroso aquele fim de semana porque eu estava na estrutura do departamento, mas senti o que sentem e sentiam os demitidos surpreendidos. E eu que demitira, por dever de ofício, tanta gente!

Dessas experiências todas cheguei a uma conclusão amarga: não há amigos na empresa apenas respeito hierárquico e interesses de sobrevivência. Quando o profissional nada mais representa nessa linha de interesse é ele descartado por mais que tenha feito aos superiores e aos subordinados. Talvez dos tempos da Chrysler eu tenha dois amigos com quem me correspondo às vezes.

Advocacia

A advocacia também se insere na vida profissional.

Formei-me na PUC – SP. Toda noite de Santo André na maioria das vezes com um Fusca-64 (motor meio fundido) ia até à rua Monte Alegre - Perdizes. 

Nunca tive moleza. Eu paguei toda a faculdade e o que mais necessário.

Embora tivesse trabalhado em multinacionais as principais acima referidas, a advocacia nunca deixou de me influenciar e ajudar.

Quando saí da Chrysler advoguei em Santo André / SCSul por algum tempo, um tempo bom de aprendizado.

Depois mudamos para Piracicaba. Fui contratado como assessor jurídico da poderosa multinacional. Respondera a um anúncio fechado que dera certo.

Todo profissional tem seus percalços, suas falhas. Mas, advogando em Piracicaba  desde1994 tive meus desgostos porque há momentos em que o Judiciário não julga, o processo é empurrado. E nesse empurra se materializa a sempre citada teratologia (decisão absurda). E o advogado se depara, sim, com magistrados pouco empenhados.

Mas, e as vitórias? Nada de soberba ou “contar garganta” até porque nem tenho mais idade para isso...

Como é bom ouvir:

- O senhor foi o primeiro advogado a conseguir aqui na cidade o “home care”;

- O senhor foi o primeiro advogado que derrubou a exigência de cobrança de taxas de manutenção imposta por associação a moradores que discordavam do fechamento do bairro que antes eram abertos.

E por aí vai.

Mas, o que me deu 15 minutos de fama foi o êxito em uma "ação popular" movida por moradores que resultou na derrubada de todos os muros de um bairro relativamente grande que fora murado de modo discutível fixando a associação respectiva, taxas de manutenção. Deu-se no Bairro Santa Rita (Piracicaba) tramitação acompanhada permanentemente pela imprensa local e regional.

// (V. "Persona" no Jornal de Piracicaba de 30.09.2018, acessando: Coluna "Persona" no Jornal de Piracicaba

// Vídeo da SPTV. Copiar e inserir no Google este endereço (há publicidade no vídeo):  https://globoplay.globo.com/v/6921605/

Hoje, ao completar a marca 78

Ainda advogo, pouco, meus clientes fieis viraram avós e os filhos e netos são de geração distante da minha. 

Gostaria muito de substituir o título de “advogado” pelo de escritor. Mas, escrever livros é difícil e, por isso, admiro esses indivíduos com esse talento porque, sobretudo, são rigorosamente persistentes nessa tarefa empolgante.

// Eu gostei de escrever o meu livro "Joana d'Art"- Acessar informações: Livro "Joana d'Art"




Leio bastante.

// Meu blog sobre livros lidos, acessar: Dos livros lidos

Estou tentando achar um novo rumo de atividades, mas me envergonho um pouco da minha pouca disposição (*)

No mais, há muito que dizer mas aí somente com um livro, digamos, autobiográfico.


Referências no texto:

(*) Em 27.06.2010 publiquei alhures este relato verdadeiro:

Minha idade de vida? 92 anos”

Desço tranquilo do 5° andar do Fórum João Mendes, em São Paulo. As coisas tinham caminhando bem nos meus (poucos) processos por lá e por isso havia baixado meu estágio “normal” de tensão quando da descida.

Alojo-me bem na frente da porta do elevador e ouço um velhote, mas bem idoso mesmo, debatendo com outro idoso algumas questões jurídicas.

Volto-me e me surpreendo com ele, magrinho, baixo, cabelo ralos dividido no meio. No térreo não resisti:

- O senhor é advogado militante? Posso perguntar sua idade?

O velhote me olhou de alto a baixo, segurou firme a gravata verde, vacilou um pouco, e respondeu:

- Sou advogado e minha idade são 92 anos.

- Mas o senhor ainda exerce a profissão?

Diante da resposta afirmativa, aquele que parecia ser seu cliente, também idoso, arrematou:

- E ele viaja para outras cidades para audiências e o que mais necessário.

Revelei minha admiração pela sua disposição para o trabalho e me envergonhei um pouco pela minha preguiça, mesmo depois de estar me aproximando das quatro décadas advogando ou indiretamente me valendo da advocacia para outros tipos de trabalho.

A advocacia é uma espécie de cachaça embora de “má qualidade” que vicia.

Sai para a rua de São Bento nos rumos de um velho bar para um lanche reforçado. Na frente da estação do Metrô, a uns dois passos do Largo de São Bento.

- Bom demais tudo isto! 


12/09/2021

COTIDIANOS...

Há aqui episódios  e fotos já divulgadas. Estou reunindo todos e as fotos nesta página,


1. QUANDO AS CIRCUNSTÂNCIAS SURPREENDEM

Perdi a conta dos seguros de veículos que contratei ao longo dos anos.

Até que, neste ano de 2021, resolvi não renovar o seguro do meu carro. 

Afinal de contas, já passara o tempo, 35 anos sem qualquer acidente de trânsito, o carro saíra de linha este anos mas ainda novo e me perguntava, no que aproveitaria o seguro?

Uns dez dias depois, em estado de graça, numa tarde de quarta-feira, resolvera dar uma chegada no fórum com um processo físico a tiracolo.

Paro no cruzamento tranquilamente, farol vermelho para mim,

Vira verde e vou em frente no cruzamento. Um carro menor passara no vermelho em velocidade. Eu o abolroo com alguma violência. A frente do meu carro, "estourada".  u

Um motorista idoso. Seu carro, já velho é jogada a centímetros de um poste fato que atestava sua velocidade. 

Ele levemente se feriu.

Fiquei um mês sem o carro, mas a família do motorista pagou tudo. apenas lamentando que eu não tivesse o seguro.

Carro pronto, o que fiz? Renovei o seguro e até hoje medito nas circunstância: que tipo de "carma" eu e motorista pagamos um ao outro?

Destaque: quando o farol voltou ao verde, parou ao meu lado um carro cabine dupla. O motorista deve ter percebido a minha desorientação sem celular carregando um volume de processo em papel. Disse:

- Eu vi, ele passou no vermelho.

A partir dai ele tomou as rédeas da situação: ligou para a polícia, para o guincho e tudo foi resolvido. Não pude agradecer. Dias depois, pelo celular não consegui o contato. Parece que ele me havia bloqueado. Mas, de que maneira? Certamente que não queria se envolver em eventual processo judicial.


2. UM CONCEITO ENTRE DEUS E A NATUREZA DE MUITA RELEVÂNCIA




Não tenho lido frase mais expressiva do que essa, proferida pelo astrofísico canadense de Montreal (nascido em 13.07.1932), HUBERT REEVES. 
De minha parte, ligado como sou na ecologia e na preservação ambiental, em 1966 escrevi isto apenas para preencher um espaço numa publicação com diversos poemas:

                                                               PENSE...

Pense nas flores silvestres e se tranquilize, 
Pense na singeleza das árvores e sorria, 
Pense na alegria da passarada, sinta o Criador, 
Pense no céu de doce azul, anime-se, 
Pense nos animais despreocupados, reflita, 
Pense na criança que nasce e confie, 
Pense no sol que brilha e não desanime, 
Pense num amanhã melhor e espere, 
Pense no que a lutar e lute, 
Pense em toda a Natureza 
Não se desespere, 
A Natureza é Deus...



3. LOUCURAS NA COLHEITA DE MAMÕES 

Mamões aqui são colhidos, tanto para consumo próprio como para ração de pássaros que fizeram de uma ameixeira um pensionato cheio de mordomias: diariamente bananas e uns nacos de mamão e vasilha para água e banho.

Já noto que maritacas também estão se utilizando da "pensão".

Então, acho que pela última vez, me aventurei a colher mamões diretamente do pé, cuja altura já superou o telhado.




Daqui para frente os mamões maduros ficarão para os pássaros e um gambazinho atrevido que toda noite nos "assalta" e aqui busca seu jantar. Esse da foto deve ser descendente de outros que por aqui passaram.




4. A CARA RISONHA DAS NOITES

Já falei sobre isto: por muito tempo nas noites quentes esse rosto “desenhado” por galhos da alta tipuana, às vezes sorridentes às vezes sério ao sabor do vento me fez companhia pelas madrugadas naquelas noites quentes.



Mas, como tudo na vida tem seu tempo o rosto, pelas transformações da árvore, se foi.

É preciso ampliar a foto

Só resta a Lua que para mim é um farol inexplicável mesmo que já tenha sido visitada.

Olha só o olho lunar:






5. ROSTOS NA FUMAÇA AO ATAQUE AO "WORD TRADE CENTER"

Essa coisa de ver rostos e imagens em árvores e até nas nuvens constitui-se até um passatempo ocasional de tantos.

O jornal "O Estado de São Paulo" de 4 de setembro estampou a foto abaixo, pela chegada dos 20 anos dos ataques às torres gêmeas de Nova York. (*)

Nela pude ver dois rostos: o da direita uma figura entristecida, resignada; o da esquerda, um rosto "assustador", voltado para a direita.



Uma dupla contraditória entre a resignação e o ódio.

(*) Foto: Sean Adair / Reuters


6. GALERIA: COMUNICAÇÃO SILENCIOSA COM MANIFESTAÇÕES DAS DIVINDADES.

Os tempos são de opressão, de forças obscuras.
Eu me desvio delas por instantes, apreciando estas manifestações:










                                        

13/08/2021

O FAZEDOR DE DESERTOS – Folha do ABC de 02.09.1984


Esse artigo de 1984 tem alguns pontos de repercussão da época, de teorias (“passarinhada” foi um festa com churrasco de passarinhos que se deu numa cidade vizinha de São Paulo).

No estágio atual de desvios climáticos graves de hoje, o artigo de “ontem” não deixou de apontar essas imensas dificuldades atuais que tendem a se agravar com a devastação ambiental severa.

Em artigos mais recentes voltei a me valer das advertências de Euclides da Cunha em “Os Sertões” sobre as queimadas que se davam e se dão agora, mais do que nunca nas matas sob fogo implacável.

Este o trecho um pouco mais elucidativo extraído da grande obra:

"Esquecemo-nos, todavia, de um agente geológico notável - o homem. Este de fato, não raro reage brutalmente sobre a terra e entre nos, nomeadamente, assumiu em todo o decorrer da história o papel de um terrível fazedores de desertos. Começou isto por um desastroso legado indígena. Na agricultura primitiva dos silvícolas era instrumento fundamental - o fogo." (*)

Encontrei a prática das queimadas pelos indígenas em duas outras obras. Os relatos são do final das décadas de 30 e 40:

Tupari” de Franz Caspar:

Para preparação de suas culturas, havia com muita regularidade, desmatamentos e até mesmo incêndios perigosos mas que não avançavam, pelo que se depreende do relato do Autor, além do "planejado". (**)

E também na obra “Roncador” de Willy Aureli:

Os xavantes segundo relata o livro frequentemente faziam fogo queimando imensas extensões da floresta sem que houvesse qualquer explicação quanto à utilidade prática. Não se tratava de desmatamento para plantio.” (***)

São tragédias hoje agravadas na Amazônia pela grilagem e extração ilegal de madeira. O tema é árduo porque se tornou espécie de cultura da devastação impune.

Esse artigo de 1984 no semanário “Folha do ABC” foi o possível de localizar. Há anteriores muito mais antigos sobre o mesmo tema que se perderam naqueles idos do registro em papel.

Eis o teor desse artigo de 1984:


FAZEDOR DE DESERTOS


"Esquecemo-nos, todavia, de um agente geológico notável – o homem. Este, de fato, não raro reage brutalmente sobre a terra e entre nós, nomeadamente, assumiu, em todo o decorrer da história, o papel de um terrível fazedor de desertos.” Euclides da Cunha, “Os Sertões”.

As linhas acima, de Euclides da Cunha foram escrita no início do século (passado), quando os recursos energéticos não representavam, como hoje, o polo central do desenvolvimento tecnológico para satisfazer as necessidades básicas ou supérfluas de uma humanidade sempre e inevitavelmente crescente.

Aqui já nos manifestamos numa linha ecológica que nos parece, daqui para frente, numa progressão geométrica o grande desafio que enfrentaremos, não como demonstração piegas de “amor à natureza”, mas como elemento de sobrevivência.

Enquanto isso, os técnicos, diante dos fenômenos naturais incomuns que se intensificam no mundo todo, costumam achar explicações científicas e racionais concluindo, em outras palavras, que se trata de um capricho da natureza.

Ora, certos aspectos não podem mais ser enquadrados nessa ótica limitada. O materialismo se dilui insolúvel, por exemplo, quando se medita sobre a vida e a morte. Como é incompreensível, diante de nossos olhos, o corpo morto, inerte e sem brilho.

Dessa forma, acima dos cálculos e dos gráficos, latentes e poderosas permanecem as mensagens intuitivas que, silenciosamente, vão nos dando a medida das coisas. E a essas, não é nada coerente ignorarmos.

A natureza age com outras forças. Notem os prognósticos dos meteorologistas, cuja única tarefa é analisar as condições do tempo. Passam horas diante dos seus instrumentos e gráficos e com que frequência erram em suas previsões.

Todas essas conturbações que estamos vivendo tendem a se intensificar. As enchentes no Sul, além do desmatamento indiscriminado e irresponsável ao longo de décadas, se deve (a despeito dos desmentidos técnicos), à imensa reserva aquática debitada à Usina de Itaipu que passou a representar o desequilíbrio maior numa região já sensível aos efeitos das frentes frias.

Há mesmo que se pergunte que tipo de reação natural suportaremos futuramente com a monumental extração petrolífera que se verifica em todos os recantos do globo terrestre.

Definitivamente, a preocupação pelo meio ambiente não pode mais ser tratada com o riso debochado dos que se sentem seguros do sucesso e que entendem o mundo como mero instrumento de lucro e poder.

Achamos que essa questão devesse se transformar numa disciplina escolar. Já para a infância de tal sorte que as crianças quando adultas tivessem nessa matéria a responsabilidade e o trato que não estamos tendo.

Hoje, esse mínimo de bom senso nos parece uma utopia: empresas impunemente poluem a atmosfera, os rios, verifica-se a existência de “passarinhadas”, árvores serem tratadas com descaso e mutiladas e mesmo o fim dos jardins e hortas residenciais.

Mudemos ou lutemos para mudar essa mentalidade acomodada e insensível. Está em jogo nossa sobrevivência e a possibilidade de conviver com nossos semelhantes, sem aumentarmos a tensão a níveis insuportáveis e belicosos. 



Referências



12/06/2021

EU E MEU INGLÊS RUIM NOS ESTADOS UNIDOS

Memória (*)


Todo profissional que trabalha em empresas do ramo automotivo (mas não só) – americanas – “corre o risco” de passar uns dias nos Estados Unidos. Isso aconteceu comigo em 1989. Fiquei por lá por uns 35 dias.

Espero não ser maçante com este relato uma mera experiência profissional e gastronômica.

Em 1988 o Brasil tivera inflação de quase 1000%. Em 1989 a moeda passou a se chamar “cruzado novo” dando-se em janeiro o corte de três zeros. Mas, nada adiantou. As utilidades tinham preço em milhões de cruzados. Em 1989 a inflação chegaria a quase 2000%.

Chega-se nos Estados Unidos com uma situação dessas no Brasil. Visita à multinacional do ramo automotivo, em Peória (Illinois).

Embora tivesse comigo um colega que falava bem o inglês, coube a mim, com meu inglês ruim explicar pros americanos a loucura da inflação brasileira.

- Bem, nós resolvemos a inflação com a “monetary corretion” e é possível controlá-la com a equiparação ao dólar.

Reage o americano perplexo:

- Mas, vocês cortaram três zeros do dinheiro! Para quê a inflação se tem a correção monetária?

Responder o quê?

Essa explicação fora dada várias vezes porque a perplexidade era justificável.

Um dia qualquer, porém, numa visita a uma fábrica na cidade de Aurora, um dos funcionários que nos acompanhava fez deboche dos 90% (?) de inflação mensal.

Perdi a paciência e com inglês ruim e tudo parti para o sermão. Mais ou menos isto:

- Você conhece o Brasil? Você não quer saber do poderio de São Paulo? Você sabe que a VW emprega milhares de trabalhadores numa fábrica imensa? Você certamente sabe dos lucros que “nossa” empresa obtém no Brasil, com inflação e tudo, não sabe? Na verdade bem ou mal conseguimos conviver com a inflação e o país não vai parar por causa disso.

Depois dessa intervenção “estranhamente” ninguém mais tocou no tema “inflation”. (**)

O último compromisso da viagem fora uma visita na fábrica da Chrysler em Detroit. Eu havia trabalhado na filial no ABC um motivo para a facilitação da visita.

Escolhemos conhecer a linha de montagem.

Quero dizer, antes, que em 1983 escrevera um artigo numa revista jurídico-trabalhista, sobre “relações trabalhistas” explanando também sobre a automação a partir de um robô que num acidente provocara a morte de um trabalhador japonês. No debate que suscitou, então, a previsão era de que os robôs tomariam as funções dos trabalhadores, obrigando todos a renunciar de um modo ou outro. E disse eu, então, naqueles escritos como decorrência da modernidade anunciada e da “renúncia”: “atingiremos, então, a civilização e filosofaremos”. 

Bobagem deslumbrada: quase 40 anos depois milhares de trabalhos não existem mais e nada de filosofia, muitos os conflitos que eclodem. E o que pensar da modernidade eletrônica que a cada dia nos surpreende? Tudo digital? [Em 2009 nos EUA fui “apresentado” ao GPS!]

Pois bem, a linha de montagem da Chrysler me impressionou muito: entravam as latarias (“esqueletos”) no começo da linha e na outra extremidade os carros saiam praticamente prontos, com intensa atividade dos robôs com pouca intervenção dos profissionais na linha. Não digo que automação já não começara aqui, mas não com essa eficiência.

Pensei nas consequências aos trabalhadores não especializada que nos meus tempos de Chrysler eram caçados intensamente no mercado. A VW naqueles tempos empregava 35 mil empregados. A informação atual no Google é que agora só emprega 15 mil trabalhadores.

Hoje, o que fazem aqueles trabalhadores com baixa especialização ou nenhuma que chamávamos “práticos”?

Pensado nisso tudo, um certo encanto com o próprio país, então o desfecho comemorando o êxito da viagem, o aproveitamento e a melhora do meu inglês que hoje se perdeu...

Na volta ao hotel, que transpirava luxo por todos os lados subíramos ao restaurante situado no terraço giratório, envidraçado, sofisticado, que permitia ver a cidade por todos os ângulos enquanto se movia lentamente.

Com amigos de última hora fizemos nossos pedidos e enquanto aguardávamos a comida, num copo imenso, foram servidos camarões temperados, brinde da casa.

Já meio cismado com “frutos do mar” porque havia anos assumira não comer carne de qualquer espécie (o peixe de vez em quando, apenas), mas eram eles ainda uma forma de compor algum cardápio em situações especiais, como se dava ali, comecei a comer camarões.

Num dado momento pergunto, apontando para alguns exemplares no copo:

O que são estas linhas pretas aqui, em cima dos camarões?

Um dos que ocupavam a mesa, me respondeu com ironia:

São os intestininhos do bicho. Eles são os temperinhos...

Dizem sempre que os camarões são espécie de urubus minúsculos dos mares que se alimentavam de tudo o que apodrece.

Nada de delicadezas e afetações, mas meu estômago revirou, um assombroso sopro em forma de arroto exalou silencioso. A minha repulsão tornara-se impossível disfarçar.

Mal jantei, um macarrão temperado razoavelmente ou algo assim, apimentado. Seria a salvação, depois de comer por longo tempo pizzas adocicadas, fritas, catfish frito… sem generalizações, há bons restaurantes lá.

Por isso acho que o arroz e feijão constituem uma mistura alquímica.

Tive outras experiências ruins mais tarde com o camarão, alergias e “revoltas” digestivas.

E assim, hoje, todo camarão à minha frente me faz ver aquelas linhas pretas às quais degustei em Detroit com um vinho branco da melhor qualidade.

Não será preciso dizer que os “frutos do mar” foram também abolidos do meu cardápio. Para sempre.

"Culpa" dos americanos.

De todas essas experiências só posso me referir a uma frase comum: “tudo tem seu tempo”, mas as memórias ficam.


(*) Parte desta crônica já foi divulgada em outras publicações neste blog

(**) O "Plano Real" eclodiria com sucesso em 1994




Detroit vista de Windsor, no Canadá.


O GINASIANO