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TEXTO COMPLETO


 
  Eu já escrevi sobre isto. Tive duas vira-latas no meu quintal, mãe e filha. A primeira foi adotada porque perambulava pelas ruas. É dela a expressão de humildade. A segunda nasceu nele e mais do que eu ela se apegou a mim, a Preta. Foram 17 anos de convivência e aquele amor incondicional, como já relatei. Ela precisou ir atacada por insidiosa doença. Nunca imaginei que naquele momento que não tive coragem de assistir o nó na garganta, escondido no meu escritório, se convertesse em soluços amargos. Aquele sentido de perda que ainda me afeta porque parece que ouço às vezes seus fungos, seus reclamos de minha presença, pelos cantos da janela do meu escritório de casa ao anoitecer. Ou seu espectro no quintal. Passados já alguns meses de sua morte, minha penitência por tudo o que não fiz, que não retribui é essa: sou eu quem, no cemitério virtual, me deito ao seu lado com emoção. Há aquela frase referencial de Antoine de Saint-Exupéry na sua obra-prima “O Pequeno Principe”, que pela voz da raposa transmite séria advertência: “você é responsável pelo animal que domestica”. Tenho minhas dúvidas se não há alguns animais que têm certa responsabilidade sobre nós pelo amor que irradiam.
Eu já escrevi sobre isto. Tive duas vira-latas no meu quintal, mãe e filha. A primeira foi adotada porque perambulava pelas ruas. É dela a expressão de humildade. A segunda nasceu nele e mais do que eu ela se apegou a mim, a Preta. Foram 17 anos de convivência e aquele amor incondicional, como já relatei. Ela precisou ir atacada por insidiosa doença. Nunca imaginei que naquele momento que não tive coragem de assistir o nó na garganta, escondido no meu escritório, se convertesse em soluços amargos. Aquele sentido de perda que ainda me afeta porque parece que ouço às vezes seus fungos, seus reclamos de minha presença, pelos cantos da janela do meu escritório de casa ao anoitecer. Ou seu espectro no quintal. Passados já alguns meses de sua morte, minha penitência por tudo o que não fiz, que não retribui é essa: sou eu quem, no cemitério virtual, me deito ao seu lado com emoção. Há aquela frase referencial de Antoine de Saint-Exupéry na sua obra-prima “O Pequeno Principe”, que pela voz da raposa transmite séria advertência: “você é responsável pelo animal que domestica”. Tenho minhas dúvidas se não há alguns animais que têm certa responsabilidade sobre nós pelo amor que irradiam. Essas aves estão sempre em grupo e são barulhentas mas pousam silenciosamente. A arara-canindé está ameaçada de extinção por conta do contrabando e pelo comércio ilegal de aves. São aves muito procuradas como “de-estimação” pela docilidade, beleza; possuem certa capacidade de fala. Uma vez que formam casal, não mais se separam e botam cerca de 3 ovos e chocam entre 27 e 29 dias. Em cativeiro, vivem aproximadamente 60 anos.
Essas aves estão sempre em grupo e são barulhentas mas pousam silenciosamente. A arara-canindé está ameaçada de extinção por conta do contrabando e pelo comércio ilegal de aves. São aves muito procuradas como “de-estimação” pela docilidade, beleza; possuem certa capacidade de fala. Uma vez que formam casal, não mais se separam e botam cerca de 3 ovos e chocam entre 27 e 29 dias. Em cativeiro, vivem aproximadamente 60 anos. 
 Tendo a cigarra, em cantigas,
Tendo a cigarra, em cantigas,




 E o pior: esses facínoras de gravata não se contentam com pouco. Saciam-se apenas com valores vultosos, a ponto de tirar da boca de crianças carentes, 
sua merenda ou diminuir recursos da saúde, educação e saneamento aos mais necessitados.
Inclui-se, mas num nível marginal na acepção do termo, o trânsito das drogas e para que tal se dê, com a liberdade que até agora ocorre, claro que há imensa rede de corrupção que se beneficia do vicio e da destruição psíquica e moral do viciado e família. A preço do vil metal.
E o pior é que esses desonestos e marginais se julgam imortais tal a quantidade de abusos que praticam. Como se todos os seus crimes e lucros que deles provém serão usufruídos sem limites, quando na verdade nada sobrará da herança quando da consecução da mortalidade.
Diria que esse quadro faz parte da natureza humana, neste mundo desigual, que estimula certas personalidades à experiência e ao aprendizado, mesmo que vivendo num estágio ainda abaixo da intuição média, o que não evita a delinquência, o roubo e o assassínio. 
Temos que conviver com essa horda, ajudar no que possível com exemplos aos que beiram a criminalidade na tentativa de alertar sua censura (consciência) ou a combater e mesmo punir como penitência.
Tudo parece óbvio.
Há notícias esparsas que vêm se repetindo aqui e acolá de atos de caridade praticada por muitos indivíduos extremamente ricos, o que seria uma antítese da avareza. Esses surpreendentes caridosos e filantropos têm por princípio devolver à sociedade pelo menos parte do que ela os possibilitou amealhar aos montes.
São exemplos a serem enaltecidos porque sacodem a sociedade, espécie de dedo em riste condenando aqueles que abusam e mantém tudo o que amealharam no cofrinho forte da corrupção que tem tudo a ver com a avareza. E àqueles insensíveis que moram em imensas redomas virando o rosto para as carências muitas nas suas vizinhanças e que poderiam minimizar.
Sim, a avareza está presente de muitas formas no nosso dia-a-dia. Mas, como disse, nunca frequentei essa roda de vícios que de uma maneira ou outra a qualificam. (1)
E o pior: esses facínoras de gravata não se contentam com pouco. Saciam-se apenas com valores vultosos, a ponto de tirar da boca de crianças carentes, 
sua merenda ou diminuir recursos da saúde, educação e saneamento aos mais necessitados.
Inclui-se, mas num nível marginal na acepção do termo, o trânsito das drogas e para que tal se dê, com a liberdade que até agora ocorre, claro que há imensa rede de corrupção que se beneficia do vicio e da destruição psíquica e moral do viciado e família. A preço do vil metal.
E o pior é que esses desonestos e marginais se julgam imortais tal a quantidade de abusos que praticam. Como se todos os seus crimes e lucros que deles provém serão usufruídos sem limites, quando na verdade nada sobrará da herança quando da consecução da mortalidade.
Diria que esse quadro faz parte da natureza humana, neste mundo desigual, que estimula certas personalidades à experiência e ao aprendizado, mesmo que vivendo num estágio ainda abaixo da intuição média, o que não evita a delinquência, o roubo e o assassínio. 
Temos que conviver com essa horda, ajudar no que possível com exemplos aos que beiram a criminalidade na tentativa de alertar sua censura (consciência) ou a combater e mesmo punir como penitência.
Tudo parece óbvio.
Há notícias esparsas que vêm se repetindo aqui e acolá de atos de caridade praticada por muitos indivíduos extremamente ricos, o que seria uma antítese da avareza. Esses surpreendentes caridosos e filantropos têm por princípio devolver à sociedade pelo menos parte do que ela os possibilitou amealhar aos montes.
São exemplos a serem enaltecidos porque sacodem a sociedade, espécie de dedo em riste condenando aqueles que abusam e mantém tudo o que amealharam no cofrinho forte da corrupção que tem tudo a ver com a avareza. E àqueles insensíveis que moram em imensas redomas virando o rosto para as carências muitas nas suas vizinhanças e que poderiam minimizar.
Sim, a avareza está presente de muitas formas no nosso dia-a-dia. Mas, como disse, nunca frequentei essa roda de vícios que de uma maneira ou outra a qualificam. (1) Sem qualquer compromisso de explanar sobre os demais pecados, começarei com a “gula” porque se trata, a “arte” de comer, do nosso dia-a-dia, indispensável e prazerosa.
Já se disse que todos os prazeres mundanos são efêmeros, isto é, eles resistem pouco: uma viagem tão ansiada se perde num maço de fotografias que com o tempo vão sendo esquecidas, o sono recompõe as forças, mas no fim do outro dia ele haverá que ser renovado.
Mas, e o comer?
Talvez seja, para os que desfrutem de relativa fartura um daqueles prazeres que deixam marca, a marca da gula.
As refeições não se limitam no dia-a-dia, elas podem se repetir com diferentes quitutes, várias vezes: um café reforçado, cheio de pães, presuntos, biscoitos e compotas, pouco depois, no almoço regado a frituras, carnes assadas, legumes na manteiga ou margarina, cervejas ou refrigerantes, doces amanteigados, saladas e quem sabe, frutas na sobremesa se não for sorvete.
À tarde para não perder a oportunidade, um café com bolo e, à noite, para comemorar qualquer coisa, uma massa bem feita ou mesmo pizzas “temperadas” com vinho.
No fim de semana, inevitável comparecimento à churrascaria para se deliciar de nacos de picanha suculentos e gordurosos e outros do rodízio - colesterol "in natura" -,  chopes, várias canecas... (*)
A marca da gula esta na barriga e na sua circunferência. A balança silenciosa revela que antes registrara 80 quilos e agora mais de 90 quilos...
A barriga é notória, pontuda, não dá para esconder mais. Por causa dela, o manequim sobe dois números ou mais. 
- Puxa fulano, você engordou. O pasto é bom, hem. Você consegue amarrar os sapatos?
Gozação sutil. Que vergonha!
Faz o teste de amarrar os sapatos. A barriga vai antes e suprime parte da respiração e dificulta o movimento. Amarrados os sapatos, parece ter havido um teste de fôlego, a respiração volta dificultosa.
- Meu Deus, preciso emagrecer!
O consolo é examinar as barrigas maiores e constatar que há ainda muito que avançar até alcançar aquele estágio de 120 quilos.
E os americanos comendo hambúrgueres, fritas e refrigerantes todos os dias? Milhares caminham imitando hipopótamos.
- Meu Deus, preciso emagrecer!
No supermercado tem início a tentativa:
- Quero muçarela magra, de búfala.
- Mas, não tem gosto essa muçarela, observa o atendente atrevido.
Mostra a barriga pontuda.
- Preciso começar um regime
E ele observa, encarando a barriga saliente:
- Mas, o senhor foi feliz, comeu do melhor. Saboreou.
Levou muçarela de búfala.
Mas, as massas da noite anulariam as calorias economizadas com a muçarela de búfala.
É isso aí, são sete os pecados capitais. Mas é a barriga que denuncia a gula, o guloso, o pecado 
- Começo o regime no ano novo. Já há uns dez anos que tento, desta vez vai.
Será que contraio anorexia? 
Ai, ai, ai...
Sem qualquer compromisso de explanar sobre os demais pecados, começarei com a “gula” porque se trata, a “arte” de comer, do nosso dia-a-dia, indispensável e prazerosa.
Já se disse que todos os prazeres mundanos são efêmeros, isto é, eles resistem pouco: uma viagem tão ansiada se perde num maço de fotografias que com o tempo vão sendo esquecidas, o sono recompõe as forças, mas no fim do outro dia ele haverá que ser renovado.
Mas, e o comer?
Talvez seja, para os que desfrutem de relativa fartura um daqueles prazeres que deixam marca, a marca da gula.
As refeições não se limitam no dia-a-dia, elas podem se repetir com diferentes quitutes, várias vezes: um café reforçado, cheio de pães, presuntos, biscoitos e compotas, pouco depois, no almoço regado a frituras, carnes assadas, legumes na manteiga ou margarina, cervejas ou refrigerantes, doces amanteigados, saladas e quem sabe, frutas na sobremesa se não for sorvete.
À tarde para não perder a oportunidade, um café com bolo e, à noite, para comemorar qualquer coisa, uma massa bem feita ou mesmo pizzas “temperadas” com vinho.
No fim de semana, inevitável comparecimento à churrascaria para se deliciar de nacos de picanha suculentos e gordurosos e outros do rodízio - colesterol "in natura" -,  chopes, várias canecas... (*)
A marca da gula esta na barriga e na sua circunferência. A balança silenciosa revela que antes registrara 80 quilos e agora mais de 90 quilos...
A barriga é notória, pontuda, não dá para esconder mais. Por causa dela, o manequim sobe dois números ou mais. 
- Puxa fulano, você engordou. O pasto é bom, hem. Você consegue amarrar os sapatos?
Gozação sutil. Que vergonha!
Faz o teste de amarrar os sapatos. A barriga vai antes e suprime parte da respiração e dificulta o movimento. Amarrados os sapatos, parece ter havido um teste de fôlego, a respiração volta dificultosa.
- Meu Deus, preciso emagrecer!
O consolo é examinar as barrigas maiores e constatar que há ainda muito que avançar até alcançar aquele estágio de 120 quilos.
E os americanos comendo hambúrgueres, fritas e refrigerantes todos os dias? Milhares caminham imitando hipopótamos.
- Meu Deus, preciso emagrecer!
No supermercado tem início a tentativa:
- Quero muçarela magra, de búfala.
- Mas, não tem gosto essa muçarela, observa o atendente atrevido.
Mostra a barriga pontuda.
- Preciso começar um regime
E ele observa, encarando a barriga saliente:
- Mas, o senhor foi feliz, comeu do melhor. Saboreou.
Levou muçarela de búfala.
Mas, as massas da noite anulariam as calorias economizadas com a muçarela de búfala.
É isso aí, são sete os pecados capitais. Mas é a barriga que denuncia a gula, o guloso, o pecado 
- Começo o regime no ano novo. Já há uns dez anos que tento, desta vez vai.
Será que contraio anorexia? 
Ai, ai, ai... MEMÓRIA: UM BRINQUEDO INESPERADO. UMA SURPRESA
Vou retornar no tempo, há muito tempo.
Eu ainda morava em São Paulo, na Lapa, bairro onde nasci. Na rua Roma.
Tempos de “pureza”, mais do que nunca, palavrão era pecado.
Criança, 6 ou 7 anos, saía sem medo pelas ruas dava a volta no quarteirão e parava nos escritórios da fábrica de máquinas de costura Leonam (Manoel ao contrário porque o dono seria Manoel Ambrósio Filho). As ruas eram praticamente desertas.
Tenho leve lembrança de queixas da derrota do Brasil na Copa de 1950 no Maracanã.
Acho que, pela família palmeirense, não sei se ainda na |Lapa ou já em São Caetano tenho distante a voz do incomparável narrador Pedro Luiz emocionado com a conquista pelo Palmeiras do campeonato mundial interclubes em 1951, comemorado apoteoticamente por 100 mil torcedores no mesmo Maracanã. Acho que meu irmão empolgado dissera: “o Palmeiras é campeão”. Não sei se foi nesse campeonato…
A proximidade do Natal e do Ano Novo tinha um sabor especial, muito mais do que agora, certamente. Naqueles idos na Lapa, a família toda se reunia na casa de um tio e lá havia a ceia do dia 31 de dezembro.
Minha mãe, excelente cozinheira, uns dois dias antes do Natal se unia às minhas tias e começavam a prepará-la.
Todos se uniam, meus primos e primas, meus pais, meus tios que contavam "causos", piadas, havia um clima de descontração pelo Natal, desprovido do apelo comercial de hoje e na véspera do Ano Novo, na virada, o rádio transmitia a corrida de São Silvestre. Em 1950 venceu um belga.
Penso que meus pais enfrentavam problemas, tanto que logo depois mudamos para as imediações de São Caetano, um trauma para minha mãe porque tudo estava por fazer, uma cidade que obtivera a autonomia havia dois anos.
Há desses momentos que não se esquece. E foi na Lapa. Guardei para sempre pelo gesto que surpreendeu o menino.
Fora, também, resultado de um impulso decidido, há quantos anos!
Quanto a mim, lembro-me bem, não sabia se meu presente de Natal seria bom. Se haveria presente.
Dias antes do Natal, meu primo fora ao "jardim de infância" para a festa da escola onde estava matriculado. Era perto de onde morávamos.
Fui com ele mas não tive coragem de entrar. Eu não "era" da escola.
Fiquei no portão e pude ver à distância todas as brincadeiras, as balas distribuídas e, para surpresa geral, no fim da festa, a escola distribuiu brinquedos a todos os alunos.
As crianças que estavam fora, vendo os presentes nas mãos dos meninos que saiam contentes, permaneciam boquiabertas pelos brinquedos que não ganhariam do "jardim da infância". E quiçá, do papai noel que naqueles tempos era uma figura comercial, mas nem tanto.
Eu não poderia ficar sem brinquedo também.
Criei coragem, entrei na escola quase vazia e vi-me numa sala ampla, toda enfeitada.
Uma mulher lá estava. Não me lembro do seu rosto? Era jovem? era velha? Bonita ou feia? Talvez mais jovem que velha. Jeito de professora, com certeza:
- Também quero um brinquedo, afirmei meio trêmulo com os olhos voltados para o chão.
A mulher, surpresa com o pedido, olhou-me por alguns segundos e sem relutar pegou sobre um armário uma carrocinha de madeira, puxada por um cavalinho. Caprichada, perfeita. Estava desembrulhada, sem a caixa. Talvez por isso tenha sobrado.
Entregou-me:
- Para você.
Foi demais. Inesquecível. Minha mãe ficou surpresa e contente com o presente inesperado que recebera. Jamais esquecerei essa carrocinha, pela forma como ela me foi dada.
Naqueles tempos e hoje com jogos eletrônicos e tudo, ainda acho que há uma idade em que a criança se encanta com um brinquedo. E quando ele é dado como foi dado sem qualquer relutância, seu valor se multiplica e permanece para sempre na memória.
Há um sentido de leveza e intensidade na gratidão a lembrar e a relatar.
Ainda que tenha sido há muito tempo, enleva tanto quem concede sem relutar, como quem recebe tanto que até hoje tenho guardada (na memória) essa carrocinha e seu cavalinho...
 - A família precisa comer, minha mãe adoentada. E nisso vi que tinha que assumir a carrocinha. E fui assumindo ainda menino. Eu, mas você também fez isso, enrolava fio de cobre descascado numa peça de ferro para ficar mais pesado e lá vinham os trocados do ferro velho. Com alguns tostões íamos à venda para comprar copinhos de hóstia com bananada. Que tempos, cara, que tempos! 
Foi por aí que fiquei riquinho, mas no diminutivo mesmo. Meu orgulho.
- Essa história de carrocinha e seu pai me leva aos meus tempos de infância, um pouco antes disso, ainda. Não me lembro bem se meu pai voltara ou não ao alcoolismo. Acho que não. Essa doença fora provocada pela própria grande empresa de bebidas naquilo que hoje chamamos de “happy hour”. No fim do dia, o consumo de bebidas ficava meio liberado, o chope e mesmo destilados que ela produzia naqueles tempos. Essa facilidade deu no que deu.
Eu ainda morava em São Paulo, na Lapa, bairro onde nasci.
Há desses momentos que você não esquece. Guardei para sempre pela gratidão que ficou. Fora, também, resultado de um impulso decidido, há quantos anos!
Naqueles tempos, a proximidade do Natal e do Ano Novo tinha um sabor especial, muito mais do que agora, certamente. As famílias se reuniam e usufruíam a ceia que todos se empenhavam em preparar . Minha mãe, excelente cozinheira, uns dois dias antes do Natal se unia às minhas tias e começavam a prepará-la. Todos se uniam, meus primos e primas, meus pais, meus tios que contavam "causos", mentirinhas mas, rigorosamente, havia um clima de emoção do Natal, desprovido do apelo comercial de hoje.  Na véspera do Ano Novo, na virada, o radio espocava com a corrida de São Silvestre.
Quanto a mim, lembro-me bem, não sabia se meu presente de Natal seria bom. 
Dias antes do Natal, meu primo fora ao "jardim de infância" para a festa da escola onde estava matriculado. Era perto de onde morávamos. As ruas eram praticamente desertas.
Fui com ele mas não tive coragem de entrar. Eu não "era" da escola.
Fiquei no portão e pude ver à distância todas as brincadeiras, as balas distribuídas e, para surpresa geral, no fim da festa, a escola distribuiu brinquedos a todos os alunos. As crianças que estavam fora, vendo os presentes nas mãos dos meninos que saiam contentes, permaneciam boquiabertas e tristes pelos brinquedos que não ganhariam do "jardim da infância". Muitos, nem do "Papai Noel" – que figura essa, que hoje me irrita. O cara todo de vermelho, barbudo, agasalhado num clima de quase 40°. C, com aquela risada ridícula: compre, compre, compre!
Eu não poderia ficar sem brinquedo também.
Criei coragem, entrei na escola quase vazia e vi-me numa sala ampla, toda enfeitada. .
Disse à mulher que lá estava. Não me lembro do seu rosto? Era jovem? era velha? Bonita ou feia? Talvez mais jovem que velha. Jeito de professora, com certeza:
- Também quero um brinquedo, afirmei meio trêmulo com os olhos voltados para o chão.
A mulher, surpresa com o pedido, olhou-me por alguns segundos e sem relutar pegou sobre um armário uma carrocinha de madeira, puxada por um cavalinho. Caprichada, perfeita. Estava desembrulhada, sem a caixa. Talvez por isso tenha sobrado. Entregou-me:
- Para você.
Foi demais. Inesquecível.
Minha mãe ficou surpresa e contente com o presente inesperado que recebera.
Jamais esquecerei essa carrocinha, pela forma como ela me foi dada. 
Naqueles tempos e ainda hoje com jogos eletrônicos e tudo, há uma idade em que a criança se encanta com um brinquedo. E quando ele é dado como foi dada a mim a carrocinha, sem qualquer relutância, seu valor se multiplica e permanece para sempre na memória.
Há um sentido de leveza e intensidade na gratidão a lembrar e a relatar. Ainda que tenha sido há muito tempo. Enleva tanto quem concede sem relutar, como quem recebe. Para sempre. E não tem essa de sentimentalismo barato, de memória inútil.
- Eu também já ouvi essa história. Mas, isso já vai para quase um século e você não a esquece?
- Não tem como.
- Vamos descer para umas e outras.
- Fico num copo só, vou avisando.
- Eta cara chato. Ficou pior agora. Vamos lá então. Eu tomo o resto.
Imagem: "Catador" -  http://www.comshalom.org/blog/carmadelio/date/2009/11
- A família precisa comer, minha mãe adoentada. E nisso vi que tinha que assumir a carrocinha. E fui assumindo ainda menino. Eu, mas você também fez isso, enrolava fio de cobre descascado numa peça de ferro para ficar mais pesado e lá vinham os trocados do ferro velho. Com alguns tostões íamos à venda para comprar copinhos de hóstia com bananada. Que tempos, cara, que tempos! 
Foi por aí que fiquei riquinho, mas no diminutivo mesmo. Meu orgulho.
- Essa história de carrocinha e seu pai me leva aos meus tempos de infância, um pouco antes disso, ainda. Não me lembro bem se meu pai voltara ou não ao alcoolismo. Acho que não. Essa doença fora provocada pela própria grande empresa de bebidas naquilo que hoje chamamos de “happy hour”. No fim do dia, o consumo de bebidas ficava meio liberado, o chope e mesmo destilados que ela produzia naqueles tempos. Essa facilidade deu no que deu.
Eu ainda morava em São Paulo, na Lapa, bairro onde nasci.
Há desses momentos que você não esquece. Guardei para sempre pela gratidão que ficou. Fora, também, resultado de um impulso decidido, há quantos anos!
Naqueles tempos, a proximidade do Natal e do Ano Novo tinha um sabor especial, muito mais do que agora, certamente. As famílias se reuniam e usufruíam a ceia que todos se empenhavam em preparar . Minha mãe, excelente cozinheira, uns dois dias antes do Natal se unia às minhas tias e começavam a prepará-la. Todos se uniam, meus primos e primas, meus pais, meus tios que contavam "causos", mentirinhas mas, rigorosamente, havia um clima de emoção do Natal, desprovido do apelo comercial de hoje.  Na véspera do Ano Novo, na virada, o radio espocava com a corrida de São Silvestre.
Quanto a mim, lembro-me bem, não sabia se meu presente de Natal seria bom. 
Dias antes do Natal, meu primo fora ao "jardim de infância" para a festa da escola onde estava matriculado. Era perto de onde morávamos. As ruas eram praticamente desertas.
Fui com ele mas não tive coragem de entrar. Eu não "era" da escola.
Fiquei no portão e pude ver à distância todas as brincadeiras, as balas distribuídas e, para surpresa geral, no fim da festa, a escola distribuiu brinquedos a todos os alunos. As crianças que estavam fora, vendo os presentes nas mãos dos meninos que saiam contentes, permaneciam boquiabertas e tristes pelos brinquedos que não ganhariam do "jardim da infância". Muitos, nem do "Papai Noel" – que figura essa, que hoje me irrita. O cara todo de vermelho, barbudo, agasalhado num clima de quase 40°. C, com aquela risada ridícula: compre, compre, compre!
Eu não poderia ficar sem brinquedo também.
Criei coragem, entrei na escola quase vazia e vi-me numa sala ampla, toda enfeitada. .
Disse à mulher que lá estava. Não me lembro do seu rosto? Era jovem? era velha? Bonita ou feia? Talvez mais jovem que velha. Jeito de professora, com certeza:
- Também quero um brinquedo, afirmei meio trêmulo com os olhos voltados para o chão.
A mulher, surpresa com o pedido, olhou-me por alguns segundos e sem relutar pegou sobre um armário uma carrocinha de madeira, puxada por um cavalinho. Caprichada, perfeita. Estava desembrulhada, sem a caixa. Talvez por isso tenha sobrado. Entregou-me:
- Para você.
Foi demais. Inesquecível.
Minha mãe ficou surpresa e contente com o presente inesperado que recebera.
Jamais esquecerei essa carrocinha, pela forma como ela me foi dada. 
Naqueles tempos e ainda hoje com jogos eletrônicos e tudo, há uma idade em que a criança se encanta com um brinquedo. E quando ele é dado como foi dada a mim a carrocinha, sem qualquer relutância, seu valor se multiplica e permanece para sempre na memória.
Há um sentido de leveza e intensidade na gratidão a lembrar e a relatar. Ainda que tenha sido há muito tempo. Enleva tanto quem concede sem relutar, como quem recebe. Para sempre. E não tem essa de sentimentalismo barato, de memória inútil.
- Eu também já ouvi essa história. Mas, isso já vai para quase um século e você não a esquece?
- Não tem como.
- Vamos descer para umas e outras.
- Fico num copo só, vou avisando.
- Eta cara chato. Ficou pior agora. Vamos lá então. Eu tomo o resto.
Imagem: "Catador" -  http://www.comshalom.org/blog/carmadelio/date/2009/11
 Com regularidade recebo mensagens do Greenpeace, ora se referindo a ações que promovem para combater o aquecimento global, preservação das florestas e outros ora pedindo donativos em dinheiro para campanhas em locais distantes do planeta.
Com regularidade recebo mensagens do Greenpeace, ora se referindo a ações que promovem para combater o aquecimento global, preservação das florestas e outros ora pedindo donativos em dinheiro para campanhas em locais distantes do planeta. Além do Japão, também a Noruega e a Islândia caçam baleias alegando interesse “científico” mas que na verdade, em especial os japoneses, apreciam a carne do maravilhoso cetáceo, fazendo parte de sua “cultura”.
Além do Japão, também a Noruega e a Islândia caçam baleias alegando interesse “científico” mas que na verdade, em especial os japoneses, apreciam a carne do maravilhoso cetáceo, fazendo parte de sua “cultura”. Mas, foi com um exemplar admirável de calopsita que me trouxe intimidade com um passarinho admirável, inteligente que “sabia o que queria”.
Mas, foi com um exemplar admirável de calopsita que me trouxe intimidade com um passarinho admirável, inteligente que “sabia o que queria”. Todos se lembram do filme “O Pássaros” de Alfred Hitchcock de 1963, a história de milhares de pássaros que avançam sobre uma cidade e atacam violentamente os moradores. O filme pode ser interpretado de várias maneiras. Em 1963, bem me lembro, a ecologia não estava em voga, não havíamos chegado aos limites que chegamos neste século 21 de absoluto desrespeito ambiental a despeito das severas advertências do que está advindo desses atos insensatos e até um tanto suicidas.
Todos se lembram do filme “O Pássaros” de Alfred Hitchcock de 1963, a história de milhares de pássaros que avançam sobre uma cidade e atacam violentamente os moradores. O filme pode ser interpretado de várias maneiras. Em 1963, bem me lembro, a ecologia não estava em voga, não havíamos chegado aos limites que chegamos neste século 21 de absoluto desrespeito ambiental a despeito das severas advertências do que está advindo desses atos insensatos e até um tanto suicidas.